A 1.ª MANIFESTAÇÃO EM BEJA DEPOIS DO 25 DE ABRIL DE 1974
Dia 27 de abril de 1974, sábado, pelo início da manhã, entre as 9.00h e as 10.00h, uma força militar, proveniente do quartel sediado em Beja, atravessa a cidade com destino à sede da PIDE / DGS, situada na Av.ª Vasco da Gama, junto ao liceu, atual Escola Secundária Diogo Gouveia, no edifício onde hoje se encontra a delegação do Instituto Português de Cartografia e Cadastro. A missão é prender os agentes desta polícia.
Quem observa a movimentação da força militar depressa espalha a notícia e a população começa a juntar-se nas imediações da sede da polícia política do fascismo português. As figuras mais conhecidas da oposição bejense estão presentes. A emoção é visível nos seus rostos.
No fim da manhã surge na concentração, que não se cansa de gritar "morte à PIDE"; "O povo unido jamais será vencido"; "Morte ao fascismo", etc., o Manuel João Mansos, poeta popular de Vidigueira. Está em transe. De tronco nu e de chapéu preto na cabeça tem todo o seu esforço virado para o arranque da placa que sinaliza, na avenida, o estacionamento privativo da DGS.
O ambiente é de grande tensão: uma corda é lançada sobre um tronco de uma das árvores que ladeiam a avenida. Grita-se por justiça popular. É então que, no meio desta exaltação, surge a provocação: Um dos agentes da PIDE vem à varanda e de forma sobranceira olha a multidão, que se aperta de encontro às camionetas da força militar gritando em uníssono "Assassinos".
Presos os agentes da polícia política pelo exército, que os transporta para o quartel, de imediato se forma uma manifestação que da Avenida Vasco da Gama se desloca até à praça da República, passando pela porta principal do liceu, portas de Mértola, rua dos táxis e rua dos Infantes. Durante o percurso a manifestação engrossa e são centenas os manifestantes que entram na praça entoando a canção "Grândola Vila Morena". Aqui chegados dois homens discursam: Um operário, de seu nome Narciso, e José Colaço, pouco tempo depois escolhido para Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Beja e Presidente eleito da edilidade nas primeiras eleições em liberdade do poder local, em 1976, cargo que exerce até 1982.
Para muitos, sobretudo para as e os jovens alunos do liceu que abandonaram as aulas nessa manhã para se juntarem à concentração que se formava junto à sede da PIDE e que, posteriormente, se integraram na manifestação, este foi verdadeiramente o primeiro dia de liberdade. O primeiro dia do resto das suas vidas.
Nos meus 15 anos, nesta manhã, olhando a alegria incontida e esfusiante, bem como as lágrimas de felicidade no rosto desta pequena multidão, percebi que algo de majestoso e belo estava a acontecer no meu país.
50 anos depois é necessário e urgente resgatar a esperança e fazer novamente a liberdade passar por aqui.
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