A ORGANIZAÇÃO DAS CLASSES DA SOCIEDADE RURAL DO DISTRITO DE BEJA NOS PÓS 25 DE ABRIL DE 1974

O STA (Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas)

Apesar de não possuírem qualquer estrutura organizativa à data do 25 de Abril e das últimas lutas reivindicativas remontarem a 1962, no âmbito das quais foi conquistada a jornada de trabalho de 8 horas diárias, os trabalhadores rurais do distrito de Beja, derrubada a ditadura, rapidamente erguem o seu sindicato.

Impulsionado por uma Comissão Pró-Sindicato constituída em Pias, concelho de Serpa, que isola a Comissão Pró-Sindicato formada a 15 de maio de 1974, em Baleizão, por iniciativa do CAV (Comité Alentejo Vermelho), que tem na sua base um núcleo com ligações à formação de esquerda radical designada por CCRML (Comités Comunistas Revolucionários Marxistas Leninistas), o STA do Distrito de Beja realiza nesta cidade, a 2 de junho, a sua primeira reunião à escala distrital.

Esta reunião é o grande passo na constituição do sindicato rural. Nela se define o STA do distrito de Beja como “o organismo que unirá todos os camponeses e camponesas (incluindo os tractoristas) com o objetivo de defender os seus interesses face à entidade patronal” e se decide realizar reuniões de trabalhadores em cada uma das localidades do distrito visando a eleição de comissões locais pró-sindicato, bem como constituir uma Comissão Distrital formada por dois representantes de cada uma dessas comissões.

Esta Comissão Distrital reúne pela primeira vez sete dias depois, ou seja, a 9 de junho, também em Beja, onde, para além da eleição de um secretariado, são dadas instruções no sentido das comissões locais Pró Sindicato utilizarem as Casas do Povo como suas sedes e aprova-se o caderno reivindicativo da classe, o qual, posteriormente, é entregue pelas comissões concelhias Pró Sindicato aos empresários agrícolas, o mesmo é dizer aos representantes da ALA (Associação Livre de Agricultores), por forma a estabelecerem-se negociações.

Refletindo a origem geográfica do STA, o primeiro secretariado do sindicato é dominado pelos delegados da Comissão Pró-Sindicato de Pias. A partir de 16 de junho de 1974 este secretariado alarga-se, passando a ser constituído por três delegados da comissão de Pias e dois de cada uma das seguintes comissões: Brinches, Vidigueira e Aljustrel. Só em julho é que o secretariado do STA sofre novo alargamento com a inclusão de delegados do concelho de Beja. Nesta fase de edificação do STA do distrito de Beja os membros mais ativos do secretariado são Manuel Godinho Tagarroso e Francisco de Ascensão Batista, ambos de Pias, a quem se junta, em julho, José Batista Mestre Soeiro da freguesia da Cabeça Gorda, concelho de Beja.    

Do caderno reivindicativo aprovado na reunião da Comissão Distrital do STA, de 9 de junho, consta, como um dos pontos centrais, uma tabela salarial contemplando melhorias significativas do valor da jorna diária, uma vez que se propõe, pelas 8 horas de trabalho, 200$00 para os tractoristas, 170$00 para os trabalhadores gerais e 120$00 para as mulheres. Para se ter uma ideia da revolução salarial que esta tabela encerra basta referir que o salário médio de um trabalhador rural, serviços gerais, em 1973, não ultrapassa, em média, para os homens 80$00 / dia e para as mulheres 45$00 / dia.

A esta reivindicação associam-se outras exigências como a garantia de emprego para todos os trabalhadores e trabalhadoras, semana de trabalho de 44 horas.

Perante a recusa dos proprietários agrícolas em aceitarem este caderno reivindicativo dá-se a primeira greve rural dos pós 25 de abril de 1974. Acontece no concelho de Beja, inicia-se a 13 de junho, com a paralisação de todo o trabalho de ceifa e debulha, e termina a 19 do mesmo mês, com o chamado acordo de Beja, o qual vai, a partir deste momento, a ser o caderno reivindicativo de todos os assalariados do Alentejo.


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