AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS DE 1976

O CASO DA FREGUESIA DE VILA DE FRADES, CONCELHO DE VIDIGUEIRA (Conclusão)

Como vimos na passada semana, verifica-se, nas eleições para a Assembleia de Freguesia de Vila de Frades, a vitória da lista de independentes, com 63,85% dos votos, contra 29,40% do PS. Como também se referiu esta lista de independentes não deixa espaço político à FEPU, coligação hegemonizada pelo PCP, que não concorre.

Esta ausência da FEPU nas eleições autárquicas em Vila de Frades vai pesar decisivamente na derrota do PCP na eleição para a câmara municipal de Vidigueira, ganha pelo PS que faz eleger Manuel Trindade Reis como Presidente da Câmara por apenas 24 votos e a eleger 4 deputados municipais, os mesmos do PCP, embora com mais 44 votos.

Depois de instalada a Junta de Freguesia de Vila de Frades, bem como a respetiva Assembleia de Freguesia, cujas composições se encontram nos Quadros I e II, o presidente da Junta confronta-se com uma Assembleia Municipal constituída por 12 deputados e deputadas municipais: ele próprio, independente, 5 do PS e 6 do PCP, pelo que a composição da mesa da Assembleia Municipal estava dependente do seu voto. Se votasse ao lado do PS empatava, se votasse ao lado do PCP dava a vitória a este partido na votação da mesa e, por conseguinte, na de Presidente da Assembleia Municipal. Como era independente e uma figura de prestígio, a solução passou pela sua eleição para o cargo.

Lendo a ata da Assembleia Municipal de Vidigueira, de 28 de janeiro de 1977, que elege a mesa que orientará os trabalhos desta assembleia, a sensação que se tem é que não houve por parte dos partidos nela representados, PS e PCP, qualquer estratégia concertada ou autónoma na eleição do presidente. A prova do que se afirma é que não se apresentou qualquer lista a sufrágio, pelo que a votação se fez de forma nominal. Realizada a votação para presidente, num universo possível de 12 votos, o professor Carapeto obteve 11. Para primeiro secretário, com 7 votos, foi eleito António Manuel Abrantes Caeiros, ficando como segundo secretário Joaquim Baltazar Vidinha.

Na ausência de qualquer arranjo político pré-eleitoral, como tudo indica, o prestígio do presidente de Junta de Vila de Frades, eleito pela “Lista Unitária dos Trabalhadores de Esquerda”, impôs-se com naturalidade dado seu prestígio, acontecimento que sublinha o facto da nossa democracia ter no seu “código genético” a revolução popular que a precedeu.

A história, que é sempre feita pelos vencedores, tem a tendência de privilegiar as forças políticas, sociais e económicas dominantes, esquecendo-se de outros atores que, embora de “menor peso”, foram decisivos em determinada conjuntura, marcando com a sua ação o rumo dos acontecimentos. A “Lista Unitária dos Trabalhadores de Esquerda” que ganhou a Assembleia de Freguesia de Vila de Frades é um desses casos. Num quadro caracterizado pela derrota da revolução, um conjunto de cidadãos, em contraciclo com a “normalização democrática” imposta pelo 25 de novembro, conseguiu manter levantada a bandeira do poder popular, da democracia participada e da cidadania ativa e com isso não só teve uma palavra importante na formação do poder político local como deu o seu contributo, na altura, para a democratização da democracia.

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