Conhecer o estado da saúde mental dos cidadãos com mais de 18 anos residentes em Portugal, no contexto da pandemia da COVID-19 e, em particular, os indicadores de ansiedade, depressão, perturbação de stress pós-traumático e burnout (stress profissional), bem como identificar determinantes de resiliência e vulnerabilidade nesta população, é fundamental para a adoção de medidas que possam mitigar o sofrimento psicológico e promover a saúde mental e o bem-estar da população Portuguesa, quer durante a pandemia quer após o controlo epidemiológico da mesma.

Com esta finalidade, foi desenvolvido o estudo Saúde Mental -COVID19, coordenado pelo Departamento de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças Não Transmissíveis do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em colaboração com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Dos resultados e conclusões apresentadas no documento, destaca-se o seguinte:

  • 34% dos indivíduos da população geral e 45% dos profissionais de saúde inquiridos apresentavam sinais de sofrimento psicológico no decurso dos 15 dias anteriores à participação no estudo;
  • 27% dos inquiridos da população geral indicaram ter sintomas moderados a graves de ansiedade, 26% sintomas de depressão e 26% sintomas de perturbação de stress pós-traumático;
  • São sobretudo as mulheres, os inquiridos entre os 18 e os 29 anos, os desempregados e os indivíduos com mais baixo rendimento quem apresenta mais frequentemente sintomas de sofrimento psicológico moderado a grave, ansiedade, depressão ou perturbação de stress pós-traumático;
  • Nos profissionais de saúde, os resultados mostram percentagens mais elevadas de sofrimento psicológico relativamente à população geral, nomeadamente no que se refere a ansiedade moderada a grave. Os mais afetados são os que estão a tratar doentes com COVID-19, com um risco de sofrimento psicológico 2,5 vezes superior aos que não estão a tratar esses doentes. É também neste grupo de profissionais de saúde que os níveis de burnout (exaustão física e emocional) são mais elevados (43%);
  • A dificuldade na conciliação trabalho-família, a preocupação com a manutenção do trabalho ou preservação do rendimento, a perceção de menos apoio social ou familiar e a preocupação relativamente ao futuro são determinantes relevantes de problemas de saúde mental na população geral;
  • Por outro lado, a resiliência, bem como a manutenção de passatempos/hobbies, de rotinas diárias e/ou de atividade física, têm um efeito protetor do bem-estar psicológico e estão associadas a um risco diminuído de sintomas de ansiedade, depressão ou stress pós-traumático;
  • Nos indivíduos que indicaram estar ou ter estado em quarentena, em isolamento ou já recuperados da COVID-19, 72% reportaram sofrimento psicológico e mais de metade referiu sintomas de depressão moderada a grave. Dos indivíduos infetados que estiveram em internamento hospitalar ou em cuidados intensivos, a maioria (92%) refere sintomas de ansiedade moderada a grave.

O Plano de Recuperação e Resiliência, que se encontra em discussão pública, propõe-se concluir a Reforma da Saúde Mental, com uma verba de 85 milhões de euros, que será aplicada, entre outros investimentos, na criação de residenciais na comunidade que permitam retirar os doentes residentes em hospitais psiquiátricos, na construção de quatro unidades de internamento em hospitais gerais e na criação de 15 centros de responsabilidade integrados.   As pessoas com doença mental são frequentemente alvo de atitudes estigmatizantes e discriminatórias, decorrentes de ideias erradas muito vincadas na nossa cultura e sociedade. 

O estigma, segundo Ana Matos Pires, Diretora do Serviço de Psiquiatria da ULSBA, é ainda um problema bem presente, na sociedade em geral, nos profissionais de saúde, e até nos profissionais de saúde mental. A batalha contra o estigma em saúde mental está longe de estar ganha, assegurando Ana Matos Pires, que “o estigma existe e mata”.

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