AS PRIMEIRAS MOVIMENTAÇÕES DOS VÁRIOS SETORES PROFISSIONAIS BEJENSES

Em simultâneo com a organização das diversas classes da sociedade rural do distrito de Beja, também outos setores da sociedade bejense e do Baixo Alentejo tentam criar estruturas que defendam os seus interesses no novo quadro político criado pela queda da ditadura. O “tirar a tampa”, pelo golpe militar do 25 de abril, “à panela de pressão” que era a sociedade portuguesa tem como efeito a criação de um movimento popular que nos locais de trabalho e na rua cresce de forma continuada exigindo melhores condições de vida e a democratização da sociedade assente na participação popular.       

No início de maio de 1974 um grupo de comerciantes de Beja exige a demissão da direção do Grémio e elege uma comissão constituída por Fernando Corte-Real Graça e Silva, Manuel José Barrocas, Joaquim Pedro dos Santos Faleiro, Reinaldo José Marques Castilho, José C. Sanina e Joaquim Eduardo Lança Coelho com o objetivo de eleger democraticamente os novos dirigentes do Grémio.

No mesmo mês os funcionários da Caixa de Previdência de Beja reúnem-se em plenário onde pedem a demissão do diretor e da direção da instituição. Quando o diretor é demitido todos os trabalhadores se apresentam ao serviço de cravo vermelho ao peito.

Também no início de maio reúnem-se no salão da Junta Distrital de Beja os funcionários dos Tribunais Judiciais e dos Serviços de Registo e Notariado do Distrito de Beja para discutir as condições de trabalho e remunerações. Na reunião é eleita uma comissão distrital representativa dos trabalhadores e decidido a participação destes num sindicato Nacional de Funcionários Públicos.

Ainda no início de maio os funcionários dos CTT do Baixo Alentejo reúnem em Beja para discutir a situação de trabalho, decidindo participarem na constituição de um sindicato.

Na segunda metade deste mês os trabalhadores da Câmara de Beja reúnem-se e elegem uma comissão que os represente.

Dia 26 de maio os professores do ensino primário do Alentejo, impulsionados pelos docentes de Ferreira do Alentejo, reúnem em Beja para discutirem os problemas da classe e estudarem a formação de um sindicato.

No fim deste mês os trabalhadores portugueses da Base Aérea n.º 11, de Beja, ao serviço das forças armadas alemãs, elegem uma comissão e apresentam um caderno reivindicativo à entidade patronal germânica.

No início de junho os trabalhadores da Federação dos Grémios da Lavoura do Baixo Alentejo constituem uma Comissão Pró Sindical e elaboram um caderno reivindicativo.

Também no início deste mês os trabalhadores da Direção de Estradas do Distrito de Beja se reúnem para discutir a constituição de um sindicato e elaborarem um caderno reivindicativo.

Após insistência dos funcionários do hospital de Beja junto do Governo no sentido de ser substituída a comissão instaladora vinda da ditadura, estes, no início de julho, elegem uma nova comissão para o hospital constituída  por Horácio Carvalho Flores (médico), Maria Roselita Paulino Constante (enfermeira), Maria de Fátima Rodrigues Guiomar Cano Brito (administrativa), José Luís Godinho Torrão (técnico) e Rita Maria do Carmo Ferreira (serviços gerais).

São os trabalhadores e o povo a tomarem nas mãos o seu destino. É a luta pela democracia e pela cidadania. É o início, em terras de Beja, da caminhada, que vai ser cada vez mais exigente, pela estrada das liberdades e dos direitos que abril abriu.           

Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegar estará a aceitar a sua utilização.