A VITÓRIA DO GRUPO DOS NOVE NO SEIO DO MFA

A saída do PS e do PPD do IV Governo Provisório dita a sua queda. O V Governo Provisório que lhe sucede, igualmente chefiado por Vasco Gonçalves, que toma posse a 8 de agosto de 1975, ao contrário dos anteriores, não é um Governo de coligação entre partidos (PS, PCP, PPD), sendo antes um Governo constituído por militares e por independentes de esquerda. É na vigência deste Governo que são publicadas as leis da reforma agrária, aprovadas no IV Governo Provisório, propostas pela equipa do ministério da agricultura lideradas por Fernando Oliveira Baptista, equipa que transita em bloco do IV para o V Governo.

Um dia antes da tomada de posse do Governo, ou seja, a 7 de agosto, é divulgado o chamado “documento dos nove”, onde o primado da legitimidade eleitoral se sobrepõe à legitimidade revolucionária, subscrito por nove oficiais, membros do CR (Conselho da Revolução) – Franco Charais, Pezarat Correia, Vítor Alves, Melo Antunes, Costa Neves, Canto e Castro, Vítor Crespo, Vasco Lourenço e Sousa e Castro.

Perante este documento, que circula pelas unidades militares do país onde recebe apoios significativos, de oposição ao documento “Guia Povo / MFA”, redigido por um dos setores do bloco revolucionário com ligações ao PCP, o Diretório do MFA, constituído por Costa Gomes, Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Gonçalves, que se tinha formado na Assembleia do MFA, de 25 de julho de 1975, como resposta à contestação dos oficiais moderados em relação ao desenvolvimento do processo revolucionário, decide suspender os seus autores do CR e avançar para a formação do V Governo Provisório.

Uns dias depois, a 13 de agosto, o outro bloco do campo da revolução faz sair um outro documento, o “Documento do COPCON (Comando Operacional do Continente), redigido por Mário Tomé, que tem o apoio da UDP (União Democrática Popular), MES (Movimento da Esquerda Socialista) e PRP / BR (Partido Revolucionário do Proletariado / Brigadas Revolucionárias).

Se momentaneamente o setor mais revolucionário no seio do MFA ainda tem força para constituir o V Governo Provisório, o grupo dos nove, em ligação estreita com o PS, rapidamente consegue desequilibrar a situação a seu favor.

A queda do V Governo e a sua substituição pelo VI Governo Provisório, chefiado pela Almirante Pinheiro de Azevedo, que surge a 19 de setembro de 1975, significa o isolamento no interior do MFA do grupo dos militares ligados a Vasco Gonçalves e a vitória do grupo dos nove que, entretanto, são reintegrados no CR, reforçando a sua posição, a partir desta altura, nas diversas assembleias das forças armadas.  

Perante este resvalar para a direita da situação político-militar, os trabalhadores e os partidos à esquerda do PS tentam inverter a situação através de enormes manifestações de rua de que são exemplos a manifestação de 16 de novembro, em Lisboa, onde estão presentes não só os operários da cintura industrial da capital, mas também os assalariados rurais do Alentejo, e o cerco à Assembleia Constituinte feito pelos operários da construção civil a 11 do mesmo mês.

O PS, por seu lado, em convergência com as forças à sua direita, mobiliza a sua base social de apoio em manifestações, também de rua, de apoio ao VI Governo Provisório de que são exemplos as manifestações de 9 a 23 de novembro, em Lisboa, respetivamente, no Terreiro do Paço e na Alameda.

Dominando o MFA e com fortes apoios na sociedade civil, especialmente no PS, o grupo dos nove espreita a primeira oportunidade para isolar os militares revolucionários no interior das forças armadas e pôr fim ao processo revolucionário, o que acontece a 25 de novembro de 1975.     

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