A VIOLÊNCIA POLÍTICA EM BEJA NO ANO DE 1976

O ASSASSINATO DE MANUEL PALMINHA

O PPD, que se constitui a 3 de maio de 1974, teve sempre grande dificuldade em implantar-se no Alentejo em geral e no distrito de Beja em particular, isto por duas ordens de razões. Em primeiro lugar porque o PPD não só não era referenciado com qualquer passado de luta antifascista como era, inclusivamente, identificado, nas pessoas dos seus fundadores, casos de Francisco Sá Carneiro e Pinto Balsemão, com a própria ordem Marcelista. Segundo porque os rostos do partido na região ou eram grandes proprietários agrícolas ou pessoas da sua esfera de influência.

São estas duas razões que ajudam a perceber os boicotes efetuados aos comícios deste partido no Baixo Alentejo. Primeiro em Castro Verde, em 2 de julho de 1974, e depois, em Beja, a 9 de abril de 1975, no âmbito da campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte.

Com o Alentejo em alta tensão, em 1976, fruto da luta que aqui se travava em torno das conquistas da revolução, a 10 de Abril deste ano, sábado, portanto em vésperas da eleição para a Assembleia Legislativa, surgiram incidentes em Beja em torno dum comício do PPD. Destes incidentes resultaram alguns presos que foram conduzidos à esquadra da PSP desta cidade.

Dia 13 de Abril, três dias depois, por volta das 13.30h, começou a juntar-se uma pequena multidão no largo fronteiro à esquadra da PSP exigindo a libertação dos presos, o que originou confrontos com a polícia que lança gás lacrimogéneo sobre os manifestantes, os quais se recusaram a dispersar. Passado cerca de uma hora uma força do regimento de artilharia de Beja apresentou-se no local e os ânimos acalmaram. Mais tarde, com a chegada, pelas 18.00h, de um grupo de agentes do corpo de intervenção da PSP, vindo de Lisboa, a violência regressou e com ela os primeiros três feridos entre a população que deram entrada no Hospital de Beja.

Entretanto, a multidão apelava aos militares, que se preparavam para regressar ao quartel, para não abandonarem o local e tomarem conta da situação numa ação que se queria de desautorização e de afrontamento com a polícia de intervenção. Alguns militares foram sensíveis a este apelo, os quais, mais tarde, foram alvo de sanções disciplinares. Viveram-se momentos de grande expectativa. No entanto, prevaleceu a vontade do comandante da força e os militares regressaram ao quartel. A população dispersou, para voltar a juntar-se no mesmo local por volta das 23.30h, altura em que dos novos confrontos com a polícia resultaram mais nove feridos e o assassinato de Manuel Pratas Palminha, de 38 anos. A seguir a polícia de intervenção tomou conta da cidade e, segundo testemunhos dos acontecimentos, ouviam-se, de forma continuada, rajadas de metralhadora pela calada da noite.

Estes incidentes, cuja responsabilidade foi endereçada pelo Governador Civil de Beja e pelo PCP ao que chamaram de elementos “ultra esquerdistas”, representaram uma nova relação no Alentejo entre as forças repressivas do Estado e a população, agora caracterizada pela subalternidade das forças armadas em relação à PSP e GNR no que se refere à manutenção da ordem pública, e por ações de cariz fortemente repressivo e intimidatório, numa antecipação do que será esta região do país no período em que António Barreto foi nomeado ministro da Agricultura do I Governo Constitucional.

 

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