A TENTATIVA DO GOLPE MILITAR DE 11 DE MARÇO DE 1975 VIVIDA EM BEJA

Na semana passada falámos da tentativa falhada do golpe militar de 11 de março de 1975 e das suas consequências, bem como das eleições de abril de 1975 para a Assembleia Constituinte e da legitimidade de poder daí resultante que vai ser oposta, daí em diante, à legitimidade revolucionária, o que alimentará a luta entre dois campos políticos, o da revolução socialista, onde pontifica o PCP, e o da oposição a ele, liderado pelo PS, realidade que influencia uma cisão no seio do MFA de onde emerge o chamado “grupo dos nove”.

Antes de analisarmos como evolui, neste contexto, a situação política do país, vejamos o que se passa em Beja. Aqui, a população, assim que tem conhecimento da tentativa de golpe militar, constitui brigadas que se dirigem para as estradas que dão acesso à cidade onde montam pontos de vigilância, mandando parar e revistando todos os veículos que aí transitam na procura de armas.

Na Praça da República, onde se junta imenso povo, das janelas do município falam à população diversos oradores, nomeadamente o tenente-coronel António Candeias, comandante do Regimento de Infantaria n.º 3, de Beja, manifestando o apoio do seu regimento ao MFA, e o Governador Civil, major Brissos de Carvalho, que lê uma declaração subscrita pela câmara municipal de Beja, União dos Sindicatos de Beja, PS, PCP, MDP/CDE e MÊS, a qual é do seguinte teor:

“Mais uma vez estamos perante um ataque da reacção!

Ataque que consideramos muito mais grave porque dum sector das Forças Armadas que em parte foi influenciado pelo traidor reaccionário fascista Galvão de Melo.

Tal como o 28 de Setembro temos agora o 11 de Março!

E tal como em 28 de Setembro o povo se uniu com o MFA, hoje em 11 de Março o povo tem de unir-se com o MFA.

Ninguém tem o direito de destruir a aliança Povo-MFA.

Ninguém tem o direito de destruir o direito que o povo tem à liberdade conquistada em 25 de Abril.

Quem não está com o povo?

Quem não está com o MFA?

Temos de ser francos e censurar a brandura com que todos os reaccionários têm sido tratados.

O nosso alerta terá que deixar de ser um simples alerta quase contemporizador para ser um alerta de facto. Chegámos a esse alerta.

Se for necessário não denunciaremos só os traidores, mas prendê-los-emos em nome dum povo que é e que quer continuar a ser livre.

Não queremos Pinochets em Portugal.

No átrio desta câmara encontram-se caçadores que são povo e que estão dispostos a defender até ao último cartucho a nossa querida liberdade.

É o povo a defender-se.

É o povo a dizer não à reacção. Unidade.

Só o povo unido e vigilante conseguirá destruir o fascismo”

 

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