A Rua 9 de Julho, Beja

A toponímia de uma cidade - nomes de praças, ruas, travessas e ruelas - visa, para além da homenagem a uma pessoa ou acontecimento, a preservação da memória pelo que é um elemento fundamental da sua história.  Contudo, a esmagadora maioria de nós refere, em múltiplas situações, o nome da rua onde vive sem que, no entanto, faça qualquer ideia acerca do que representa esse nome. A rua 9 de julho, em Beja, é bem o exemplo do que se acaba de referir.

            Em pleno período das guerras entre liberais e absolutistas, no início de julho de 1833, Beja estava dominada pelos seguidores de D. Miguel, embora muitos dos seus habitantes fossem defensores da ideia liberal. A notícia do desembarque das tropas liberais no Algarve, junto a Cacela Velha, e a posterior marcha, por terra, deste exército até Lisboa fez com que muitos liberais da capital do Baixo Alentejo, cheios de ânimo, abandonassem a cidade pela calada da noite, tendo como destino Serpa para aí combinarem a melhor forma de libertarem Beja do jugo absolutista. Foi assim que nesta vila se constituiu uma força armada comandada pelo tenente coronel Francisco Romão de Góis, formada por voluntários de Beja, Serpa e Mértola, a qual marchou sobre a capital baixo alentejana, onde chegou na madrugada do dia 9 de julho de 1833.

            Agrupadas as forças junto ao poço dos cavalos, o comandante Francisco Góis deu ordem de assalto, travando-se nesse dia uma violenta batalha de que os absolutistas saíram vitoriosos, uma vez que receberam o apoio de uma força miguelista que se encontrava em Messejana. Perante a grande superioridade militar dos fiéis a D. Miguel, o pequeno exército liberal abandona Beja indo refugiar-se em Serpa, daqui rumando ao Algarve via Mértola.

            A resposta absolutista na cidade foi terrível. Os liberais conhecidos foram assassinados e três deles, o Dr. Madeira, o sapateiro Joaquim Santana e um frade de nome Baião, foram queimados vivos na praça de Beja, tendo as respetivas famílias sido obrigadas a assistir ao ato.

            Esta data de 9 de julho de 1833, porque sinaliza uma ação heroica das forças liberais, sempre foi recordada pelos republicanos de Beja, sendo uma inspiração para a luta que travavam pelo derrube da monarquia, pelo que a comemoraram durante todo o período de vigência da I República.

            52 anos depois deste dia, ou seja, a 9 de julho de 1885, iniciou-se, na cidade de Beja, a publicação, às quintas-feiras, do semanário "Nove de julho", tendo como diretor Luís Vargas. Mais uma homenagem aos liberais bejenses. No primeiro número traçava-se sem eufemismos a orientação claramente republicana do periódico, pois como aí se escrevia, "O rei é incompatível com o povo. Um representa o privilégio, outro simboliza a liberdade. Enquanto a realeza existir haverá de um lado o explorador, do outro o explorado. E é com esta distinção odiosa e repugnante que nós queremos acabar".

            Em janeiro de 1905 o jornal passa a publicar-se duas vezes por semana, apresentando-se como jornal republicano independente, para, poucos dias depois, a partir de 18 de março do mesmo ano, surgir como órgão do Partido Republicano do Baixo Alentejo, tendo diretor António Aresta Branco e secretário da direção Joaquim Filipe Fernandes.

 

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