A ORGANIZAÇÃO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS DO DISTRITO DE BEJA NOS PÓS 25 DE ABRIL DE 1974

Feito o 25 de abril de 1974, no espaço de liberdade que se abre, as diferentes classes da sociedade rural do distrito de Beja começam a dar os primeiros passos no sentido da sua organização a fim de melhor defenderem os seus interesses no quadro da nova situação política.

No que se refere aos assalariados rurais, a iniciativa de constituição de um sindicato surge logo em maio de 1974, ou seja, menos de um mês depois do 25 de abril. Baleizão e Pias são as duas primeiras localidades onde se tenta fazer avançar este processo organizativo.

Impulsionado por um denominado CAV (Comité Alentejo Vermelho), que tem na sua origem uma célula com ligações aos  CCRML (Comités Comunistas Revolucionários Marxistas Leninistas), dia 15 de maio de 1974 o povo de Baleizão reúne em plenário, que conta com a presença de cerca de 500 trabalhadores, na Casa do Povo local.

Aqui os trabalhadores presentes decidem ocupar a Casa do Povo, o que fazem nesse dia, bem como eleger uma Comissão Pró-Sindicato dos trabalhadores rurais, o que também é feito na altura, tendo por sede a Casa do Povo acabada de ocupar. Mais se decide, ainda, no plenário aprovar o caderno reivindicativo dos assalariados rurais assente nos seguintes seis pontos: 1 - Salário mínimo de 6 000 escudos mensais, pagos ao mês e não à semana (o salário médio de um trabalhador rural na véspera do 25 de abril era de 80 escudos diários, ou seja, 2 400 escudos / mês); 2 - 40 horas semanais de trabalho distribuídas por cinco dias da semana; 3 - Subsídio de férias; 4 - 13.º mês; 5 - Reforma aos 55 anos; 6 - Controle da escrita das casas da lavoura pelos trabalhadores através do sindicato.

Em Pias, também no mês de maio de 1974, por iniciativa do PCP, que a 26 de abril de 1974 já tinha uma sede aberta nesta localidade, portanto, antes do partido decidir se sairia ou não da clandestinidade, constitui-se uma outra Comissão Pró-Sindicato dos trabalhadores rurais, onde têm papel preponderante Manuel Godinho Tagarroso e Francisco Ascensão Baptista, que rapidamente isola a Comissão eleita em Baleizão, apelidando-a de radical e esquerdista, e a qual toma em mãos a constituição do Sindicato.

Assim, no desenvolvimento deste processo, dia 2 de junho de 1974, os trabalhadores agrícolas realizam a sua primeira reunião à escala distrital onde definem o que é o sindicato e elegem uma Comissão Distrital. A 9 de junho esta Comissão reúne, elege um secretariado, que conta com a presença de Godinho Tagarroso e Francisco Baptista, e aprova o caderno reivindicativo da classe.

Será com base neste caderno reivindicativo, cujos principais pontos são uma tabela salarial contemplando melhorias significativas da jorna diária pelas 8 horas de trabalho (200 escudos para os tratoristas, 170 escudos para os trabalhadores gerais e 120 escudos para as mulheres), a exigência de garantia de emprego para todos os trabalhadores e trabalhadoras e a reclamação da semana de 44 horas, que os trabalhadores rurais do concelho e do distrito de Beja irão desenvolver a sua luta contra os grandes proprietários agrícolas nos meses imediatamente a seguir a 25 de abril de 1974. 

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