A LUTA DOA ALUNOS DO LICEU NACIONAL DE BEJA. HOJE ESCOLA SECUNDÁRIA DIOGO GOUVEIA (I)

Como já vimos a derrota do projeto spinolista a 28 de setembro de 1974 e a viragem à esquerda na situação política e militar do país cria condições para o espoletar de diversas lutas protagonizadas pelas classes populares no sentido de verem melhoradas as suas condições de vida. No seio desta torrente, a que o concelho de Beja não escapa, destacam-se a luta dos assalariados rurais, como já foi referido, e a luta dos estudantes do Liceu Nacional de Beja, atual Escola Secundária Diogo Gouveia, por uma escola democrática e progressista.

A composição da JSN (Junta de Salvação Nacional) faz com que diversas forças ligadas ao marcelismo, ou seja, à fase final da ditadura, pensem que nada de muito significativo iria mudar. O aparecimento de Spínola como Presidente da República após o golpe militar é, de alguma maneira, essa garantia. Sintoma do que se afirma é o apoio que todas as câmaras municipais do fascismo, no distrito de Beja, dão à JSN e ao seu presidente.

No Liceu Nacional de Beja as coisas não se passam de forma substancialmente diferente. A Comissão de Gestão do Liceu, que toma posse a 23 de setembro de 1974, supostamente em sintonia com a nova situação política, não se traduz no afastamento dos cargos de direção da escola dos professores que a vinham dirigindo durante e em sintonia política com o marcelismo. É certo que esta Comissão de Gestão é constituída por 4 professores, 4 funcionários e 4 alunos, o que representa uma alteração significativa em relação à situação vigente antes do 25 de abril de cariz reitoral. No entanto, em substância, as alterações são mínimas, uma vez que a direção do Liceu continua a ser dominada pelos docentes alinhados com o regime deposto, de que é exemplo a professora presidente da Comissão de Gestão, Dr.ª Carmem Goinhas. Por outro lado, os alunos na Comissão Gestão, nesta altura, não representam uma corrente de opinião efetivamente empenhada em mudar a escola. De facto, apesar das mudanças na sociedade portuguesa, parte significativa dos alunos do Liceu, nomeadamente os mais velhos, continuam ligados à tradição de que é exemplo o programa de festas dos finalistas, com o “Chá Dançante” a 10 de novembro, o baile a 30 do mesmo mês e a récita a 7 de dezembro, o que merece a contestação por parte de um grupo de alunos, por enquanto minoritário, apelidando todo o programa de elitista e não conforme o tipo de escola democrática que se queria construir.


A tímida abertura democrática no Liceu veio a refletir-se no novo Regulamento Interno da Escola entregue aos alunos no início do ano letivo de 1974/1975, o qual, ao não cortar com as velhas práticas ligadas ao antigo Ministério da Educação Nacional, vai ser alvo de fortes críticas por parte dos alunos.

E assim se chega à RGA (Reunião Geral de Alunos) de 8 de novembro de 1974. As reivindicações dos alunos são, no essencial, três: Elaboração de um novo Regulamento Interno; Demissão da Comissão de Gestão, dado o seu carácter conservador, e criação de uma Comissão com a função de sanear da escola os professores reacionários comprometidos com o regime deposto.

Esta RGA é importante na medida em que une os estudantes, apesar das diferenças políticas entre eles, em torno dos três objetivos referidos. E é a pressão no sentido da concretização deste caderno reivindicativo que leva os professores da escola, em Assembleia Geral de Docentes, de 13 de dezembro de 1974, a decidirem suspender as aulas. As razões apontadas resumem-se, no fundo, a uma: as críticas constantes dos alunos à Comissão de Gestão, exigindo a sua demissão, por não representar o espírito de abril.

(Continua)

 

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