Um dos cafés situados na rua principal desta localidade foi, ao longo da manhã, ponto de encontro entre vizinhos e curiosos, para trocarem ‘dois dedos de conversa’, constatou a agência Lusa no local.

O estabelecimento foi um dos sítios onde alegadamente, de madrugada, foram efetuadas detenções no âmbito da operação “Safra Justa”, da Polícia Judiciária (PJ), que desmantelou uma organização criminosa de auxílio à imigração ilegal em Portugal.

Os vidros no chão e a porta arrombada são sinais evidentes da atuação policial e servem de tema de conversa entre quem passa.

"O meu marido ouviu uma balbúrdia e, depois, soubemos que era isto", conta à Lusa uma das vizinhas do café Sol Nascente.

A moradora, que não se quis identificar por ser da aldeia e "conhecer toda a gente", explica que o referido estabelecimento era "muito frequentado por imigrantes" e que a casa ao lado era também utilizada para albergar alguns trabalhadores.

Nessa outra casa, através do postigo aberto da porta, é possível observar pratos, colchões e algumas ferramentas de obras, que corroboram a informação de que a casa estava habitada por diversas pessoas. 

"O café tem estado aberto, mas há uns dias que, de repente, fechou e os proprietários desapareceram daqui. Falava-se na aldeia que tinham uma dívida, mas nós achámos logo isto tudo muito estranho", assegura a mesma vizinha.

Junto ao pequeno largo da aldeia sede de freguesia, a apenas alguns metros de distância do café, o reboliço aumenta com a chegada de alguns familiares do proprietário. De cabeça baixa, apressam-se a limpar os destroços e a fechar completamente as portas e janelas, sem cumprimentarem os olhares atentos dos fregueses. 

Umas ruas abaixo, num "antigo lar ilegal que fechou há muitos anos", também houve buscas, relatam alguns habitantes à Lusa.

Contrariamente ao movimento da rua principal, nesta zona da aldeia tudo parece calmo e, aos olhos dos mais distraídos, a própria habitação que albergava imigrantes passa despercebida.

Em comunicado acerca da operação “Safra Justa”, a PJ anunciou hoje ter desmantelado uma organização criminosa de auxílio à imigração ilegal que controlava centenas de trabalhadores estrangeiros, a maioria em situação irregular em Portugal.

A operação resultou em 17 pessoas detidas, das quais 10 militares da GNR, um elemento da PSP e seis civis, e foi realizada através da Unidade Nacional Contra Terrorismo (UNCT), no âmbito de um inquérito titulado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

No total, segundo a PJ, foi dado cumprimento a cerca de 50 de mandados de busca e 17 mandados de detenção, não só em Beja, mas também em Portalegre, Figueira da Foz e Porto.

Em comunicado publicado na página de Internet do DCIAP, o Ministério Público (MP) disse que os 17 detidos são suspeitos de se terem aproveitado da fragilidade das vítimas para “retirarem avultadas vantagens económicas”.

“No inquérito investiga-se a atividade desenvolvida pelos suspeitos que se aproveitaram da situação de fragilidade (documental, social e económica) de cidadãos originários de países terceiros, na sua grande maioria indocumentados, para daí retirarem avultadas vantagens económicas”, pode ler-se.

Os factos investigados, de acordo com o MP, são suscetíveis de integrar a prática dos crimes de auxílio à imigração ilegal, de tráfico de pessoas, de corrupção ativa e passiva e de abuso de poder.

Já a PJ, igualmente no comunicado, referiu que estão em investigação crimes de auxílio à imigração ilegal, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

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