Autárquicas: Habitação e serviços são prioridade eleitoral em Odemira, onde a imigração ainda divide
Os seis candidatos à presidência da Câmara de Odemira nas eleições autárquicas consideram que a imigração ainda não está pacificada neste território, defendendo maior articulação entre entidades e mais investimento na habitação e serviços públicos.
Apesar de considerarem a mão-de-obra imigrante importante para alavancar setores-chave da economia local, como a agricultura intensiva dedicada aos pequenos frutos, mas também a construção civil, a restauração e a hotelaria, os candidatos apontaram soluções diferentes para a sua integração.
De acordo com Luís Cardoso (CDU, coligação PCP/PEV), a imigração no concelho de Odemira, distrito de Beja, onde existem mais de 80 nacionalidades diferentes, é essencial para a economia, embora as “condições de vida de muitos imigrantes”, a maioria do sul asiático, sejam marcadas “pela precariedade” habitacional e laboral.
“O problema da sobrelotação das casas”, a “questão da exploração laboral” e “a pressão sobre serviços públicos” foram alguns dos problemas apontados pelo candidato à Lusa.
Reconhecendo o contributo da imigração para a economia local, a candidata da IL, Ana Paula Pereira, afirmou que esta “não é uma questão da qual se possa fugir”, mas, ainda assim, sublinhou que já são visíveis “as recentes alterações à política de imigração”, com “uma redução da população migrante”.
“Não é só a riqueza produzida pelas empresas agrícolas que interessa, mas também a riqueza e postos de trabalho criados por toda [a] rede de pequenas empresas locais, sem esquecer a área da distribuição alimentar. A questão é que os serviços públicos e a habitação, bem como as acessibilidades, têm de acompanhar o aumento da população”, argumentou.
Pelo Chega, Rui Campos Silva considerou que a situação “claramente piorou”, alertando para o número de imigrantes que, afirmou, não estão “legalizados, nem registados”, o que cria muitos desafios estruturais ao território.
No seu entendimento, Odemira “não tem condições estruturais para uma vida digna para os odemirenses, quanto mais para esta massa humana de imigrantes”. “Os serviços obviamente já eram escassos e acabam por colapsar”, criticou.
Já o candidato da coligação BE/Livre, Fausto Fialho, constatou que a imigração é um assunto não pacificado, atribuindo responsabilidades à extrema-direita pela “desinformação, discurso xenófobo e de ódio” e ao “descaso dos últimos governos” na melhoria das condições de vida da população.
“Além disso, as redes de tráfico humano estão instaladas, em parte encapotadas em agências de recrutamento não regulamentadas”, sustentou.
A cabeça de lista do PSD, Ana Cortes, faz uma leitura diferente, defendendo que o fluxo migratório em Odemira “parece estabilizado”, devido “em parte pelas restrições hídricas que limitam o crescimento agrícola”.
“A integração continua insuficiente, tornando o tema sensível” entre a população, que, apesar de admitir “a necessidade de mão-de-obra”, estranha negócios “de fachada” e haver "imigrantes que circulam sem aparente ocupação”, assinalou.
Segundo o candidato do PS e atual presidente da câmara, Hélder Guerreiro, que se recandidata a um segundo mandato, o fluxo migratório “estabilizou ligeiramente”, apesar de um “aumento dos casos de reagrupamento familiar” com impactos nos “serviços de educação e saúde”.
“Importa sublinhar que é um tema nacional e que nenhum município em parte nenhuma do país conseguiu ou conseguirá responder sozinho aos desafios e preocupações deste fluxo migratório”, vincou.
O autarca apontou como solução uma aposta em “mais habitação, mais saúde, mais educação e mais mobilidade” de modo a “assegurar mais qualidade de vida e acesso de todos aos serviços e ao emprego”.
Além de considerar “o reforço dos serviços públicos”, Ana Cortes (PSD) elencou o combate às “máfias de mão-de-obra”, a criação de “habitação condigna” para os imigrantes residentes e sazonais como medidas de integração positivas.
Já Fausto Fialho (BE/Livre) apontou “o ensino da língua portuguesa e de cidadania”, o reforço de mediadores, uma maior “fiscalização às empresas” e o aumento do parque habitacional como soluções.
Ana Paula Pereira (IL) defendeu “habitação condigna”, a “aprendizagem da língua portuguesa” e um diálogo com os empresários locais “a respeito das necessidades de mão-de-obra” como prioridades da sua candidatura.
Além de considerar rever ou até mesmo alterar os “vários modelos de apoios e processos de integração” existentes em Odemira, o candidato do Chega, Rui Campos Silva, apontou para um maior empenho “no combate às redes criminosas de imigração ilegal”.
Por seu lado, o candidato da CDU, Luís Cardoso, defendeu programas municipais de habitação acessível, fiscalização rigorosa contra alojamentos sobrelotados e arrendamentos abusivos e a criação de um balcão jurídico gratuito para imigrantes explorados.
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