O “NATO Tiger Meet 21”, que termina hoje após cancelamento há um ano devido à pandemia de covid-19, desenrolou-se na maior das cinco bases aéreas portuguesas, a BA11, uma das maiores da Europa, com 800 hectares, na planície do baixo Alentejo, contando com forças de outros seis países (EUA, França, Itália, Grécia, Polónia e a neutral Suíça) e mais de mil militares.

Canceladas foram as presenças espanhola, por imprevisto de última hora nos aparelhos designados, e holandesa, por suspeita de infeção com SARS-Cov-2 num dos efetivos. Todos os participantes tinham de ter um teste PCR negativo nos últimos três dias antes da chegada.

“Este é o maior exercício da NATO este ano. Toda a agente está a precisar muito de treinar. Estamos a provar que é possível, em contexto de pandemia, desde que se cumpram as regras. É possível continuar a operar com todos os critérios de segurança”, garantiu à Lusa o coronel Carlos Lourenço (“Corvo”), chefe do Estado-Maior do Comando Aéreo.

Com 50 anos, o piloto de caças F-16, com três mil horas de voo em 15 anos de experiência na BA5 (MonteReal), o diretor do exercício sublinhou a importância do evento: “a interoperabilidade, para todos conseguirem desenvolver missões, usando diferentes meios aéreos, com diferentes capacidades, em prol do mesmo objetivo”.

“As operações de múltiplos domínios, hoje em dia, são a única forma de trabalhar. Individualmente não conseguimos concretizar de forma capaz e competente. A única maneira é trabalhar em conjunto, vários domínios – aeronaves, mas também Exército e Marinha -, e tudo o que é serviços espaciais e Ciberdefesa”, disse.

Sobre os cerca de 30 aparelhos da norte-americana Lockheed Martins que Portugal possuí – nem todos operacionais ao mesmo tempo devido à manutenção ou períodos de atualização -, Carlos Lourenço destaca as “velocidades ‘Mach 2’ (2.500 km/h), embora não seja a velocidade tática.

“Algures entre 900 e 1.000 km/h é mais capaz, em termos de competência e manobra, com vantagens em gasto de combustível. Tem mais eficácia”, explicou, adiantando que os motores Pratt-Whitney F100-PW-220E daquelas aeronaves (15m de comprimento por cinco de altura e envergadura de 10m) gastam uma média de 1.500 litros de combustível por hora.

Com três horas de autonomia no ar, os F-16 bem serviriam para encurtar as “nove horas” de distância “de Lisboa a Bragança”, celebrizadas pela banda rock portuguesa Xutos & Pontapés, tornando as viagens a “Maria”, teoricamente, “mais amiúde”, em escassos 20 minutos.

O primeiro “Tiger Meet” realizou-se em julho de 1961 na base aérea britânica de Woodbridge e desde lá, espelhando o espírito de missão, as várias esquadras aderentes, capricham nas pinturas tigradas, que simbolizam o orgulho na divisa: “difícil ser humilde”.

Portugal recebeu os “tigres” porque a sua esquadra 301, “Jaguares”, dos F-16 – uma das 11 esquadras ativas da Força Aérea - foi a melhor no “NATO Tiger Meet 19”, em Mont-de-Marsan, França, ganahndo o troféu “Tigre de Prata” e o prémio “Espírito Tigre”, reedições de êxitos portugueses em 1980, 1985 e 2011.

Durante as “rolagens” entre pistas e placas de parqueamento ou hangares, “rugem baixinho os motores”, mas quando os aparelhos F-16, por exemplo, se aprontam para a descolagem há como que um efeito de surdez humana momentâneo, dado o barulho dos jatos e gases de exaustão das máquinas que custam à volta de 20 milhões de euros.

Em Beja, as autóctones andorinhas e cegonhas vão convivendo com a azáfama e aparato do pessoal da manutenção, veículos e zumbidos tonitruantes de hélices, além dos especialistas que ocupam as instalações de radar, postos de comando e controlo do tráfego, na fronteira entre  asfalto e betão e o montado de sobreiros, azinheiras e espigas de cereais ao vento.

A BA11 foi construída ao longo da década de 1960, ainda com o ditador fascista, Salazar, no comando, através de acordos bilaterais com a República Federal da Alemanha, acolhendo numerosos tipos de aeronaves, incluindo frotas comerciais da TAP e Lufthansa para treinos.

Com o fim da atividade germânica (1993), é agora a “casa” da esquadra 601, “Lobos“, dos norte-americanos Lockheed P-3C CUP+ (quadrimotor turboélices monoplano), especializados em operações vigilância e busca e salvamento marítimos, e da esquadra 101, “Roncos”, dos Epsilon TB-30 (bilugar em tandem, de asa baixa e curta e trem triciclo retrátil) da francesa Aérospatiale) para instrução de pilotos.

"Os militares estão a dar o melhor de si para que tudo corra com a máxima normalidade e que o exercício seja um sucesso, projetando a imagem da Força Aérea portuguesa, quer ao nível nacional, quer internacional”, afirmou o comandante da BA11, coronel Paulo Costa, referindo-se ao apoio de alojamentos, alimentação, redes de telecomunicações, eletricidade ou água.

Mas os acidentes acontecem: uma cegonha foi a “baixa” do dia em que a reportagem da Lusa esteve em Beja, chocando violentamente num dos para-brisas de um dos biturbomotor C-295, em plena descolagem.

A esquadra 502, cujos aparelhos servem para transporte aéreo (carga e passageiros, nomeadamente doentes) e busca e salvamento, teve de abortar a missão que se preparava para efetuar e aterrar de emergência para avaliar eventuais danos e repará-los.

O “encontro imediato” entre a cegonha e o “Elefante” (‘bird strike’) saldou-se por uma limpeza de vidro e fuselagem e menos um espécimen “para trazer bebés de Paris”.

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