Porque não chove?

Dizia-me não há muito tempo um entendido nessa matéria, que “para nós, que vivemos no Alentejo interior, essa coisa das alterações climáticas, não é futuro, é presente”. E justificava esta cruel evidência, com um rol de dados de natureza estatística, que de imediato me fez perceber, com clareza, que o “tempo” mudou efetivamente.

Para quem como eu nasceu num monte agrícola, talvez entenda isso melhor quando nos recordamos das semanas contínuas de chuva e dos barrancos e ribeiras a correr meses seguidos. Agora, ano após ano, há cursos de água que nem correm mais do que dois ou três dias seguidos. O “tempo” está mesmo a mudar. Os primeiros indícios parecem ter chegado com aquela ideia popular de que já não há quatro estações. Agora, ou é inverno ou verão. Já não há meio termo. Mas nos últimos anos até o inverno parece ter perdido uma das suas características, a chuva. Ou então, quando esta chega, parece que o céu se derrama todo de uma vez, até ao próximo dilúvio.

As coisas mudaram mesmo. Porque razão ou razões, não sei. Aliás, parece que nem os cientistas sabem. Aos poucos aquelas teorias tipo “buraco do ozono” caíram em descrédito, e verdadeiramente ninguém sabe porque não chove com a regularidade com que chovia, ou porque é que a temperatura média está a subir. Há apenas hipóteses de explicação. Uma delas, outra, é a de que estaremos no início de mais um processo planetário de grandes mudanças a nível ambiental, que levará à extinção de algumas espécies. Quiçá à humana.

O atual nível de conhecimento científico revela-se, para já, impotente para desencadear o ressurgimento regular da chuva ou de uma temperatura média mais aprazível à vida na terra. Mas, em sentido contrário, é certo que o conhecimento existente, é mais do que suficiente para nos ensinar a conviver e a adaptar-nos, em equilíbrio com os escassos recursos que ainda nos restam.

No Alentejo, que sempre foi escaldante, e diga-se de passagem, com uma pluviosidade algo irregular, espera-se que os poderes públicos, saibam impor (sim impor, porque nestas matérias, essa coisa vaga do sensibilizar é pouco mais que folclore) o que temos à nossa mão (a pouca água, os solos, as florestas de azinho e sobro  ou o matagal rasteiro ), para que possamos continuar a dizer que esta é a nossa terra.

É que há por aí uma outra teoria, que afirma aos “sete ventos” que o Saara vai cá chegar. E que começará por nós, alentejanos do interior. Por agora, só aquelas poeiras que se infiltram, cada vez com mais regularidade, por todos os poros.

E para a semana temos o Festival Islâmico. Também com um cheirinho a Saara. Não será o início do reencontro com o nosso destino?

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