“O maior espetáculo para o homem será sempre o próprio homem”, disse-nos Eça de Queiróz.

“A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse”.

Todos somos teoricamente livres e toda e qualquer liberdade termina onde se inicia a liberdade do outro.

Somos livres na visão e interpretação de discursos, sejam eles de índole política ou de outra coisa qualquer. Vemos e ouvimos o que queremos, como queremos ou como podemos, condicionando-nos tanto ou quanto nos auto-impusermos barreiras e limitações, sejam elas ideológicas, sectárias, religiosas, clubísticas ou outras.

 

Em ano de autárquicas, discursos não faltam, em campanha ou fora dela, que os haverá para todos os entendimentos e ouvidos. Uns assentes no que "está por fazer", outros cuja âncora os agarra e fixa, desgastados, no combate aos demais, com maior ou menor dose de críticas, insinuações, mal dizeres, injúrias, meias verdades, deturpações da realidade, algum ilusionismo e iluminismo. Faz parte e sempre assim aconteceu, tal como sempre se assistiu ao contínuo rebobinar do filme “foi feito”, em detrimento da divulgação do argumento do próximo “queremos fazer” ou “falta fazer”.  Certo é que olhar-se mais para trás do que para diante não nos fará, nunca, sair do mesmo lugar.

 
Evoluídos que estão os tempos, porque nós nem tanto, diminuir para se ser ou parecer maior não é mais do que ilusão de óptica. Contam-se os anos nesse registo. Perde-se-lhes a conta, aliás. E talvez estejamos fartos. Fartos de combates de ego e de lutas campais. Talvez queiramos acção, trabalho efectivo na melhoria da cidade, do território, das instituições e das pessoas, propostas concretas e exequíveis, serviço à população, crescimento da região, desenvolvimento, abertura, inovação, juventude, futuro…

 

Nenhum mal dizer supera outro e todos se diminuem. Cada vez mais mesquinhos, medíocres de credibilidade e a perder perspectivas, logo a ver a direito e de forma limitadora, teimamos, em tempos de autárquicas, a fazer tudo aquilo que já foi feito.


“Não pode ser só isso!”


E os discursos de respeito, construtivos, disruptivos, abertos, de visão e focados naquilo que a cada um compete, sem cair no facilitismo de rebaixar, difamar, usar, citar o nome ou falar dos "outros"? Sejam eles quem forem! Porque os “outros” também o seremos nós, numa ou outra ocasião ou circunstância de vida.

 

Estou crente, e nesta matéria sempre o fui, de que se todos souberem respeitar o seu lugar e o lugar do outro, discordando ou concordando nas ideias, ideais, visões, crenças, ideologias e pensamento, será sempre possível o diálogo construtivo, a tolerância e o respeito mútuo. Até porque, pensar-se diferente é positivo e dos confrontos de ideias, levados com seriedade e assertividade, nasce, não raras vezes, o novo, a solução, a possibilidade e quiçá um qualquer caminho não vislumbrado ou tido como possível até aí. Certo é que pensar e fazer pensar é e sempre será, um acto de altruísmo.

 

Todos são necessários, têm lugar e espaço. No entanto, importará compreender-se que, dentro desse mesmo espaço existe também o espaço de cada um, assim como a sua liberdade que não deverá ser posta em causa, nem condicionada, como por vezes acontece, através do silenciamento, afastamento, injúria, ofensa, crítica, complô, esquema ou qualquer que seja o acto desprovido de moral.


Pelas palavras humanistas de Tolentino e Mendonça, “O místico é aquele que descobre que não pode deixar de caminhar. Seguro daquilo que lhe falta, percebe que cada lugar por onde passa é ainda provisório e que a demanda continua. Não pode ser só isto. E essa espécie de excesso que é o seu desejo, fá-lo exceder, atravessar e perder os lugares”.

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