O esforço solitário do Baixo Alentejo

Foi, na semana passada, inaugurado em Beja o CIBT NERBE/AEBAL. Uma criação dos empresários de Beja e do Baixo Alentejo e Litoral. Um Centro de Inovação de Base Tecnológica do Núcleo Empresarial da Região de Beja. Uma obra de excelência, bastante importante para o Baixo Alentejo, e que visa a modernização do acolhimento empresarial da região, proporcionando a essas empresas todas as condições para que se afirmem no panorama nacional e além-fronteiras.

Como sempre, nestas ocasiões, deslocam-se figuras políticas de destaque nacional para colherem louros e dizerem quase nada para além das habituais banalidades circunstanciais, por entre sorrisos e palmadinhas nas costas. Foi o caso das intervenções da Ministra da Coesão Nacional, Ana Abrunhosa e, sobretudo, do sempre inócuo António Ceia da Silva.

Ceia da Silva é o ocupante de qualquer cargo que lhe queiram oferecer. E, desta vez, o adulador socialista apareceu como convicto regionalista alentejano, na presidência da CCDR do Alentejo (o mesmo é dizer, de Évora). É penoso ouvir o seu discurso. Até porque, ao contrário de todos os oradores, que tiveram ao menos o cuidado de não se alongarem nos seus discursos, o cortesão, por adorar ouvir-se, levou a sua conversa vazia até à exasperação.

Às questões levantadas pelos responsáveis do NERBE, David Simão e Filipe Pombeiro, sobre a Auto-estrada A26, que Beja e o Baixo Alentejo não têm, bem como do calamitoso caminho de cabras chamado de IP8, não disse nada.

Sobre a electrificação da linha férrea do Alentejo, autopromoveu-se como se a conquista fosse sua (tendo sido do Movimento de Cidadãos Beja Merece Mais, como na altura foi comunicado pelo BMM - bastando consultar a informação sobre a reunião entre o Movimento e o então Ministro do Planeamento Nelson Sousa, e seu Secretário de Estado, em 2019), ignorando que o seu colega partidário, Nuno Pedro Santos, ainda esta semana, atirou o projecto para daqui a 30 anos, e excluindo o ramal ao Aeroporto de Beja, também ele inscrito no Plano Nacional de Obras Públicas. Sobre mais nada falou, limitando-se, apenas, a um conjunto interminável de lugares comuns, misturados com evitáveis gracejos insípidos. Enfim, é a continuação da nulidade do seu cargo de presidente da região de turismo do Alentejo e Ribatejo, no que ao Baixo Alentejo diz respeito.

Já a Ministra limitou-se a ser simpática, como se esse atributo bastasse para ser eficiente num dos mais altos cargos executivos do País. Não. Não chega, Senhora Ministra. Não chega quando nos vem falar da transição digital e nem estradas, nem comboio temos. Sobretudo quando a sua mensagem foi "saibamos desassossegar o Governo e os governantes naquilo que são as prioridades". Como se a Ministra fizesse parte de um outro Governo qualquer que não este que, sistemática e permanentemente, tem amputado Beja e o Baixo Alentejo de todos os recursos Públicos que o resto do País dispõe. As nossas prioridades, Senhora Ministra, são reclamadas há décadas. E não temos feito outra coisa senão desassossegar o Governo. Que teima em tapar os ouvidos a todos esses desassossegos. E que, quanto mais o desassossegamos, mais nos ignora.

Com este festim de vaidades e sorrisos forçados se comprova que com papas e bolos se enganam os tolos. Um conjunto de frases feitas, muitos sorrisinhos e meia dúzia de apertos de mão são, para esta gente, sensação de dever cumprido, e justificação de belos ordenados ao serviço da nação, e pagos por todos nós. Só que não.

Passada a festa, e regressando os altos dignitários às suas confortáveis vidas, ficam os mesmos de sempre. Sozinhos. Neste caso, a população do Baixo Alentejo. Esquecido. E as empresas da região. Abandonadas. Se não depender de nós - a dita sociedade civil - não iremos a lugar nenhum.

Vão daqui os meus sinceros parabéns a todos quantos tornaram possível este projecto em prol do verdadeiro desenvolvimento do Baixo Alentejo. O NERBE/AEBAL. Que mesmo sem acessos rodoviários, nem ferroviários, sem investimento num Aeroporto que em qualquer país europeu seria alvo da maior defesa e promoção, com um hospital cada vez mais carente - mesmo assim - acreditam que é possível desenvolver a região, lutando contra a política de abandono e indiferença, intencionais, deste Governo que, em 7 anos, pela região, não fez rigorosamente nada. E se prepara para o continuar a não o fazer.

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