MONTE GORDO: “A PRAIA DOS POBRES”

Em breve despedimo-nos de mais um Verão e da época balnear. Desde sempre que passo parte - por vezes até a totalidade - das minhas férias, junto à praia. Talvez isso aconteça (também) por ser natural e viver em Beja, onde é comum ouvir-se dizer que “os alentejanos, de Beja, têm uma praia muito deles: Monte Gordo.”

Confirmo: Monte Gordo é a “minha” praia!

São indiscutíveis as qualidades únicas desta praia, que a tornam perfeita para banhos. Foi, por isso, pioneira enquanto destino balnear, no Algarve. Começou timidamente por volta de 1950, sendo notado um incremento a partir dos anos 60, com a construção do Hotel Vasco da Gama. Foi destino para muitas figuras públicas, na altura. O ex-presidente da Assembleia da República, António Almeida Santos, por exemplo; o Hotel Vasco da Gama alojou a actriz Ingrid Bergman, em 1963, tendo ficado eternizado o episódio da multa de vinte e cinco tostões por aquela ter descido à praia com um provocante biquíni, sem que soubesse que estava num país onde não era permitido esse tipo de liberdade.

A praia de Monte Gordo tem um areal de cerca de 1,5 km, o que lhe permite acolher multidões nos meses de Verão; distingue-se também pela temperatura da água, que regista normalmente os valores mais elevados das praias a oeste. O mar é pouco profundo, sem rochas e com pouca ondulação. A costa é plana e coberta de dunas. É uma praia com bandeira azul, com vigilância de nadadores-salvadores na época balnear.

Monte Gordo foi elevada a vila em 2001 e, apesar de ter vindo a ser, ao longo do tempo, quase totalmente descaracterizada - resultado da constante avidez imobiliária e de más (ou nenhumas) opções urbanísticas e de ordenamento do território -, os cuícos (designação pitoresca dos habitantes de Monte Gordo) guardam uma certa “pureza” identitária, visível nomeadamente na presença de embarcações de pesca artesanal e de redes no areal, assim como na forma como celebram as Festas em honra da sua padroeira – Nossa Senhora das Dores : percorrem, com a sua imagem em procissão, o areal da praia, enquanto os barcos de pesca, engalanados, com as suas buzinas anunciam a passagem do cortejo religioso e pedem  a sua protecção.

Ressalvo que o passadiço de 3 Km sobre as dunas (o maior do sotavento algarvio), inaugurado em 2017, e a consequente ligação que estabeleceu entre os vários restaurantes de praia, tal como as melhorias implementadas (ainda só em metade) do jardim marginal, são mais-valias conseguidas.

Ainda que seja um populoso e popular destino turístico, Monte Gordo é seguro e calmo. Dirige-se especialmente a famílias que querem aproveitar o sol e a praia. Há muito que deixou de ser um destino falado com regularidade nos media, por acolher figuras públicas que, nos dias de hoje, servem de móbil para os jornalistas fazerem notícias. Nos meses frios e de chuva, mesmo continuando a receber turistas, em particular estrangeiros idosos, Monte Gordo regressa ao silêncio, amornado pelo som do mar.

E assim, sem (outras) notáveis alterações, tem sido. Ano após ano!

Em 2023, excepcionalmente, Monte Gordo fez notícia!

Em Fevereiro, o Jornal do Algarve (JA) começou por relatar que “começa a ser normal e habitual encontrar o Presidente da República pelas ruas de Monte Gordo aos fins de semana. Depois de alguns dias de férias em agosto e novembro do ano passado naquela freguesia de Vila Real de Santo António, Marcelo Rebelo de Sousa foi visto com muita regularidade durante o mês de janeiro de 2023. O JA sabe que o Presidente da República tem vindo até àquela freguesia do concelho de Vila Real de Santo António «de 15 em 15 dias», ficando hospedado no hotel Baía de Monte Gordo, muito perto da praia, onde dá os seus mergulhos e desfruta do sol algarvio numa concessão de toldos, passando um pouco despercebido e com privacidade.”

Qual não foi o espanto quando se soube que, “este ano Marcelo [Rebelo de Sousa havia trocado] o seu «poiso» habitual, a praia do Gigi, na Quinta do Lago, por Monte Gordo. As rotinas, por ali, são semelhantes: nadar, fazer selfies com quem pede e tratar dos assuntos "pendentes" que leva como TPC para as férias - e que são muitos.”. Assim noticia a revista Flash, a 11 de Agosto do corrente, numa peça intitulada: “Da praia dos ricos, para a praia dos pobres! Marcelo Rebelo de Sousa já chegou ao Algarve.” (https://www.flash.pt/celebridades/detalhe/da-praia-dos-ricos-para-a-praia-dos-pobres-marcelo-rebelo-de-sousa-ja-chegou-ao-algarve-veja-as-imagens)

Durante a semana que se seguiu foram várias as intervenções do Presidente da República nos órgãos de comunicação social, sobre diversos assuntos. Passaram imagens de selfies, dos seus banhos, e coisas afins. Ou não estivéssemos em plena silly season. Tal como António Cluny escreveu e eu corroboro, ficou por ser feito um certo enquadramento: falar de Monte Gordo, daquilo que tem de bom, mas também das suas necessidades e dos seus problemas. Daquilo que gera entropia à mudança, no seu sentido mais positivo, e que faz com que aquele lugar não esteja a conseguir ser mais do que uma fabulosa praia. Valha-nos, senhores jornalistas!

Fonte: 

https://blogues.publico.pt/reporterasolta/o-bikini/?fbclid=IwAR2mYD009aG0hffjsE0_ZP5Ja4ksU9kMKn1r_1iHytmfIWK25Adj5gO8rVU 

 Ingrid Bergman em Monte Gordo, Verão 1963

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