HÁ DE TUDO NA VINHA DO SENHOR

Há de tudo e cabemos todos. Apesar de sempre pensarmos que só cabemos nós e os nossos, quem nunca, ou raramente, nos questiona. Já pedir que nos perguntemos a nós próprios, parece ser ir muito longe neste tempo, tão imediato, onde agora se pode viver.

O poder (quem detém o poder) decide como a sociedade funciona. Quem vive em democracia deveria escolher, não só quem o detém, ao poder, mas como o exerce. Com que escrutínio, sim. E se serão conscientes desse exercício director? Ou o prazer afrodisíaco do poder, e em casos Andro/menopausicos , decrescendo a libido, cresce a apetência monetária (equilíbrios…) retira a consciência de o saber? Parece esta consciência perdida. Além de parecer, é. Como a mulher de César…

Centenas de milhares de voltas da Terra á roda do Sol, tem a Humanidade de vida e organização social. Grande parte delas governadas pelo medo do presente e do futuro, sentimento sedento de acções humanas para o aplacar. Quatro milhares destas voltas as que ouviram falar de Abraão e do temor ao Senhor. Milhares de anos o legado escrito grego antigo e romano, muitas vezes contando o domínio pelos temores. Dois mil e picos as parábolas neotestamentárias e o bom comportamento para escapar ao inferno. Mais de mil e quatrocentos as suras maometanas, e suas aplicações de assustar. Trezentos e cinquenta a revolução francesa (mãe de todas as outras) com o seu Terror. Pouco mais de cem tem o levar á prática, russa e tenebrosa do socialismo científico. Setenta, quase oitenta, o fim do nacional-socialismo, daquele senhor de bigode ridículo e ideias execráveis, vencido por um homem rechonchudo, fumando charutos de tabaco, bebedor de whisky, com claras ideias sobre a liberdade. Tão claras que essa liberdade o depôs, na sequência da sua e do seu povo, vitoria na guerra. E perdeu essas eleições porque foi serio. Não foi capaz de sentir desprezo pelos eleitores ao ponto de lhes infundir medo. As únicas coisas que levam os políticos a triunfar: o desprezo e o medo.

Atitude agora considerada o cúmulo da habilidade política vencedora, atemorizar os votantes com prováveis extermínios da humanidade ou com o clássico, muito religioso, Apocalipse, o fim do mundo, se não cumprirmos as regras mais credíveis do momento. Anteriormente, desde os sacrifícios humanos aos deuses, às benzeduras de sexta á meia-noite nas encruzilhadas, procissões a Santa Barbara pelas inclemências do tempo (não havia Greta), e agora ao santificar do carro a electricidade, com bula municipal de estacionamento ou ao credo á jovem e preocupada sueca.

O poder, nas mãos de gente menor, mantém-se com o medo. Por medo.

O medo é a maneira mais eficaz e vulgar de paralisar e dissuadir qualquer pessoa e igualmente as massas. E funciona tão bem que convence simplesmente quem o usa. “Uma das características do Homem é nunca renunciar a nada que tenha experimentado com impunidade ou/e com êxito, é indiferente” Diz Javier Marias, em “Berta Isla” (Alfaguara, 2017) “Aquilo que se inventa, põe-se em prática, mesmo que não faça falta.”, continua J.Marias.

E disto tudo, senhores, como T.S.Eliot , “E em resumo, tive medo.” 

Há de tudo na vinha do Senhor, mas é o medo quem guarda a vinha.

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