Democracia não é, de todo, a alergia ao Povo, à sociedade civil, às pessoas que sustentam o Estado com as suas inumeráveis instituições  dele dependentes, não as vitais, as outras. Falo das outras, as mais, dispensáveis, supérfluas, excessivas, inúteis, repetidas, improdutivas, contraproducentes e por aí fora numa vasta coleção de qualificativos inqualificáveis. A Democracia não é um jogo em que se vence uma eleição de 4 em 4 anos e ganha absolutamente ou, perdida, se arranja maneira de a ganhar, passando a um despotismo apagado, porque sem luz própria. A luz necessária para ter ideia do País que se quer e do que se quer para o País, sem se deixar encandear, confundindo o tom da competência com a cor do partido.

Misturar o partido com Estado ao ponto de passar do triste “Quem se mete com o PS, leva.” Ao quem quer fazer valer os seus direitos perante os organismos emanados do poder, leva mesmo.

A Democracia é tanto mais verdadeira quanto mais as pessoas diretamente implicadas e afetadas nas inúmeras vertentes da vida da nação têm voz. Uma voz publica, livre, não condicionada aberta ou veladamente por um Poder absoluto que ouve sem escutar. Que mantém uma rede para o suposto diálogo onde só tem assento quem e quando o Governo quer. Sempre os mesmos, as mesmas caras, os mesmos interesses, apetece dizer, com preço conhecido, não falo de corrupção, falo da manutenção, do assegurar a sobrevivência dos supostos interlocutores. Um jogo de cartas marcadas. Um sossego com custos enormes agora e no futuro. Onde se fazem leis, decretos, programas com o objetivo de atingir um clima de satisfação, não dos intervenientes, mas sim dos momentaneamente interessados, destruindo, desperdiçando oportunidades e recursos. O ódio ao sucesso do investimento público e privado produtivo, como no caso dos regadios alentejanos, é bem exemplo disto.

“É mais fácil fazer leis do que governar.” frase atribuída ao escritor russo Liev Tolstói, espelha a sensação que nos rodeia, publicam-se leis, mas não há governo.