ESPERANÇA, O SENTIMENTO QUE DOMINA BEJA EM FINAIS DE 1974

Nos pós 25 de abril de abril de 1974 o povo mobiliza-se para, em coletivo, tomar em mãos a resolução dos seus problemas, sem ficar, portanto, à espera que tal solução venha do poder central ou do poder local. Os três exemplos apresentados na passada semana (Neves, Bairro do Pelame e Albernoa) atestam o que se afirma.

Apesar desta iniciativa popular que se desenvolve em crescendo, a Câmara Municipal de Beja, liderada por uma Comissão Administrativa, eleita pela cidade – e digo cidade porque as freguesias rurais não estiveram presentes na votação na Praça da República – vê-se a braços com uma enormidade de problemas para resolver resultantes de um concelho parado no tempo onde quer nos bairros populares de Beja, quer nas comunidades rurais falta quase tudo, sobretudo em matéria de saneamento básico e habitação.

Muitos problemas e poucos recursos, pelo que é sinalizado pelo município bejense, como importante, o subsídio atribuído pela Direção Geral de Saúde no valor de 447.580$00 para a aquisição de uma retroescavadora, veículo fundamental para levantar as estrumeiras que nas freguesias rurais se encontram mesmo junto aos quintais, situação a que não foi estranho o surto de cólera que grassa no concelho no verão de 1974. Sublinhe-se que há cinquenta anos na esmagadora das localidades do distrito, que não sede de concelho, pela inexistência de esgotos e água canalizada, os terrenos junto às habitações são autênticas casas de banho a céu aberto, como, aliás, o são os quintais da maioria das habitações onde crescem estrumeiras constituídas pelos dejetos que hoje se escoam pelos esgotos de cada moradia.

Na cidade, para além do saneamento básico, outro dos problemas centrais é a falta de habitação. Aqui, como no resto, há, contudo, esperança, a esperança de que a ação governativa da democracia, conjugada com a iniciativa popular, vá criando dias melhores, sentimento que, provavelmente, preside à proposta apresentada, no início de novembro de 1974, pelo vereador Quirino Catita, e aprovada pela câmara, de que o Bairro do Carmo Velho se passe a designar Bairro da Boa Esperança. Por outro lado, o lançamento a concurso de 260 fogos a serem construídos em Beja, pelo Fundo de Fomento da Habitação, no valor global de 73 mil contos, reforçam, de facto, a esperança em dias melhores.

Esperança também que das negociações que envolvem os 52 fogos por acabar no Bairro da Base Aérea, em Beja, vulgo Bairro Alemão, e o hotel no mesmo espaço, já concluído, mas fechado, resulte a integração deste património na Câmara Municipal, com os naturais reflexos positivos na resolução do problema habitacional e na oferta hoteleira da cidade.

Esperança que a Escola de Enfermagem de Beja possa, por fim, começar a funcionar, onde a constituição da nova comissão instaladora, em novembro de 1974, (Horácio Flores – médico; Ana Oliveira Monteiro Brito Lança – enfermeira; Aldina Maria Duarte Coelho – chefe dos serviços administrativos do hospital e Quirino Catita – vereador) é vista como um bom presságio.

Esperança dos pequenos e médios agricultores, aderentes da LPA, da freguesia de Baleizão que a comissão formada por Joaquim Manuel Janeiro Periquito, Ambrózio da Silva, Francisco Patrício, Manuel António Tomás Sales, Felizardo José Fonseca, Manuel Joaquim da Silva, Manuel Francisco Estevens e António da Assunção Ifigénio possa concretizar o desejo manifestado, em reunião de finais de outubro de 1974, de criação de uma cooperativa de produtores agrícolas.

Esperança e crença na capacidade quase infinita de realização coletiva do povo são dois sentimentos que dominam, em Beja, no final do ano de 1974.   

  

 

 

 

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