Capitalismo e desigualdades em tempos de pandemia

Um estudo do prestigiado economista Eugénio Rosa de março passado, e que praticamente não teve eco na comunicação social portuguesa, conclui que em tempo de pandemia, se agravaram em Portugal as desigualdades.  

Segundo o citado autor, em 2020 e tendo por base os dados oficiais do INE, “os donos do capital…que representavam apenas 4,6% do emprego total” , apropriaram-se “de 41% da riqueza criada no país (PIB), enquanto o número de trabalhadores por conta de outrem… 4.044.800 (83,2% do emprego total), beneficiaram de apenas 35% da riqueza criada (PIB)”.

O cenário geral de desigualdade social, é ainda mais agravado por um sistema fiscal passivo com os lucros das grandes empresas, como a “ EDP/Engie - que, através de um planeamento fiscal agressivo, conseguiu não pagar 110 milhões de euros de impostos”.

Os dados da realidade portuguesa surgem no seguimento de uma tendência à escala planetária. Um Relatório recente da OXFAM Brasil, intitulado (Novo Relatório da Oxfam Poder, Lucros e a Pandemia), conclui que, “As 32 empresas mais rentáveis do mundo lucraram US$ 109 biliões a mais durante a pandemia de covid-19 em 2020 do que a média obtida nos quatro anos anteriores (2016-2019)”.

 Aquela organização internacional dá mesmo o exemplo gritante do Brasil, onde “os efeitos da pandemia também foram desiguais. Enquanto a maioria da população perdeu emprego e renda (país tem hoje cerca de 13 milhões de desempregados e 40 milhões de trabalhadores informais) e mais de 600 mil micro, pequenas e médias empresas já fecharam as portas, os 42 bilionários brasileiros tiveram sua riqueza aumentada em US$ 34 biliões (mais de 180 biliões de reais) durante a pandemia.”

Estamos, pois, perante a prova provada, (se mais provas fossem necessárias), de que o capitalismo não apresenta, em nenhuma situação, preocupações de justiça social.  Nem mesmo em tempo de catástrofe pandémica como a que o mundo atravessa.

Que os povos saibam tirar as suas conclusões.

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