
Água, da Política à Paisagem
Os construtores de paisagens são os utilizadores do mundo rural, tendo a geologia, com a sua génese dos solos e o clima como modulador da sua acção.
Quando o Homem abandona o campo está a desconstruir uma paisagem e a promover outra diferente, não necessariamente ( ou nunca ) melhor. Culminando, quase sempre, num desastre ecológico, tal o descontrolo dos equilíbrios até então mantidos pela mão humana. O afastar paulatino e com efeitos cada vez mais rápidos, das decisões da gestão agro-rural para esfera da política, manifestamente, urbana, no pior e talvez único sentido do termo, leva inevitavelmente ao resultado contrário ao que os governos nascidos da urbanidade do voto pretendem.
Falo acerca de utilização da água no maior lago construído na Europa, com fundos europeus, com dinheiro dos contribuintes desta Europa. Um êxito manifesto da extrema utilidade do regadio no Clima Mediterrâneo que nos atormenta com os seus verões longos e secos. Maior êxito ainda, se olharmos para as culturas largamente dominantes as autóctones, as indígenas, as daqui; a maior, o olival, seguida da amêndoa e da vinha. Um triunfo da ecologia, das culturas mediterrâneas. Mas não, os urbanitas, os “ativistas” da “proteção” da natureza, acham que não. Opinam que não. E porquê? Pelo direito à opinião que lhes assiste. Tal como uma senhora que ao afirmar ser o Porto a capital portuguesa, se lhe explicava que quem tem esse estatuto é Lisboa. Contestava a criatura: Em minha opinião não tem, é o Porto. Baseados neste tipo de cientificidade opinativa e em não mais que isto, são contra o olival e da vinha gostam, obviamente, só por gosto. E o Governo concorda, retirando as oliveiras dos apoios ao investimento agrícola no novo quadro. Os governinhos autárquicos, o mesmo. Até criam “cercas” (desdenhando leis e diretivas europeias) de “afastamento” das aldeias que gerem, julgando-as grandes urbes, enfim…
O mesmo Governo, a senhora, temporalmente, ministra agrícola, vem anunciar um aumento no preço da água da EDIA de 140%, fomentando desta maneira a resposta dos utilizadores para o aumento da área afecta à cultura que menos água utiliza, o olival. Reduzindo cada vez mais o “mosaico de várias culturas intercaladas”, pela singela razão de o preço da dita água ser incomportável para as manter.
A gestão da paisagem faz-se com o bolso de quem vive da terra e o desdém das “elites governantes”, fabrica as paisagens.
Como no poema de Jorge Colaço:
“A bruxa, sem sequer olhar o baralho, soube o que iria acontecer assim que o cliente se sentou.”
In: (“O Professor de Latim de Cesário Verde”, Acento Gráfico, maio 2010)