AGROFOBIA

Uma população negadora do rural, do agro, ostensivamente  afastada do meio de onde provém. Culpa o campo de todas as maldades e malfeitorias, quer imagináveis, quer possíveis. Tal como, os que ao julgar subir na vida, abominam e mais ou menos, escondem as suas origens. Este comportamento social repete-se, muitas vezes, para com quem melhora a sua vida dentro do grupo/sociedade que os dava por estagnados ou inferiores. Veja-se o antigo desdém, típico, para com os nossos emigrantes, ou a pouca consideração dada aos construtores civis, ou aos políticos. Obviamente alguns são merecedores desse repúdio, mas à ”massa” é muito mais fácil generalizar do que pensar quais.

Idealizam uma ruralidade parada na sua memória. Um campo bucólico, onde tudo decorreria igual desde o início dos tempos. Um paraíso, perdido para agricultura.

Curta memória de vida a dos que clamavam por um projecto que erradicasse o “abandono das produtivas terras alentejanas”. Curta memória de vida, também, para os que, excitadamente condenavam a agricultura dos cereais de sequeiro por ser uma monocultura, por contaminar com azoto os aquíferos, por esgotar os solos, pela terra sem árvores provocar erosão, por ter arrancado a maior parte das azinheiras, por fazer desaparecer o montado. Ou seja, o mesmo disco de agora, com ligeiras alterações na letra. Curta. Muito mais curta memória da Historia destes campos. O montado é um sistema agro-silvo-pastoril surgido durante o séc. XIX e início do séc. XX enquanto se procedeu à destruição dos matos que conformavam a imensa mancha da improdutiva charneca, isto quando a triunfante Revolução Liberal vendeu o que tinha nacionalizado às ordens religiosas e à nobreza absolutista, como explica Henrique Pereira dos Santos no seu “Portugal: Paisagem Rural”.

A agricultura mudou. Tem acesso à água, e a um turbilhão de técnica, tecnologia e ciência. Tinha mesmo de deixar de ser o que era.

“As pessoas têm medo da mudança. Eu tenho medo que nada mude”, dizia Chico Buarque d´Hollanda.

A resistência à mudança, própria dos rústicos, segundo a Antropologia Cultural, encontra agora o seu solar entre uma urbanidade deprimida e ansiosa. Numa civilização rica e de um bem-estar dado por adquirido, nada solidária, a não ser que seja para ostentar esse facto, criam-se medos e ódios alimentados por activistas e outros líderes, que apregoam tudo, sabendo nada. Sabendo vender-se...

Criou-se um sentimento de agrofobia. Toda a agricultura é condenável. Todo o agricultor é um criminoso natural. Assim os vê boa parte da Sociedade e do Estado. Como nos tempos em que as enfermeiras, em Portugal, tinham de ser solteiras, a agricultura não é profissão decente..

Escapam, de momento, ao anátema a vinha para vinho e a agricultura biológica. Com certeza porque o vinho apazigua as angustias da atormentada Sociedade e o selo “BIO” sossega os activistas . Apesar de nunca o procurarem nos produtos oriundos de uma agricultura intensiva, com que alguns se deliciam misturando-os no tabaco.

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