ADOLESCÊNCIAS

Chegado o conjunto da Humanidade aos 8 milhões de milhões de gente e simultaneamente nunca existindo uma tão grande redução percentual dos que ainda se encontram em pobreza extrema. Será a altura de começar a deixar de produzir alimentos em quantidade ou a reduzir, drasticamente, a sua produção?

Ao vivermos neste Ocidente rico, corre a, replicada, gritaria que sim. Que é indispensável reduzir ou até exterminar a Agricultura, mãe de muitíssimos males, entre os quais o de estarmos vivos. Desde os desejosos de uma alimentação humana feita de insectos, a políticos pintados de verde-pálido a tentar o paradoxo de proibir a Agricultura na RAN (Reserva Agrícola Nacional), onde se entretêm a semear hipermercados e outras excrescências de betão, mais dignificadoras da paisagem…

Maus estudos académicos, resultam em más políticas publicas. E a atração do impedir, do não deixar fazer, nem fazer nada, com decretos, portarias, regulamentos, planos, só demonstra a tentação totalitária descrita por Jean François Revell. Como o Portugal do poder tem grande influência francesa, parece ser sempre grande seguidor da afirmação do Senador gaulês Queuille: “Não há nenhum problema politico que não se possa resolver através da inacção.”

Mas a tentativa de parar a mudança, a evolução agrícola esbarra sempre na sua permanente dinâmica. A paisagem não é uma pintura. Não se isolam o tempo e as pessoas que a vão construindo. Como nos ensina o mais proeminente dos Arq. Paisagistas portugueses actuais, Henrique Pereira dos Santos. A paisagem é feita daquilo que queremos consumir. Ninguém tem uma terra abandonada porque quer. Abandona-a porque não lhe garante um rendimento, sobrevivência a si e á família, ou forte ajuda para tal.

Não restam muitas alternativas ao olival e ao amendoal que procurar o sul de Portugal. Necessitam clima mediterrânico, como o nosso; água, como a de Alqueva; terra boa, como os barros de Beja; variedades produtivas e de qualidade, processos de produção de ponta, mecanização possível e a equação, de momento, está feita. Como refere o geografo Álvaro Domingues, no livro com magnificas fotografias de Duarte Belo “Paisagem Portuguesa” editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em Outubro de 2022. Assim se tornaram praticamente inúteis “as grandes catedrais tubulares”, construídas, modificando a paisagem nos tempos não longínquos do sequeiro e preços fixos, pelo Estado corporativo e para além dele. Campos vastos de searas quase sem uma arvore. Montados arrancados, porque a maneira errada desse Estado tentar erradicar a Peste Suína Africana extinguiu os porcos livres no campo, só permitindo os confinados entre quatro paredes. Deixando só o cereal como viável alternativa ao campo dos barros. Montado este, sistema produtivo que durou pouco mais que século e meio. Antes era o inculto, tão propalado e combatido nos anos de Oitocentos, as brenhas, a charneca impenetrável, o mato sem arvores. Outra paisagem.

As paisagens dos mesmos locais mudam sempre que a economia estimula a isso, desde ao abandono, até à utilização agrícola, industrial ou urbana mais tecnológica e cientificamente avançadas. Os desejos de fixá-las, de parar as imagens no tempo, uma espécie de “pensamento mágico”, é sonho de uma sociedade adolescente, ou seja, onde a adolescência não é um estado secundário e passageiro, pelo contrário, refere M. Houellebecq, é o estado em que, enquanto envelhece lentamente o nosso corpo e praticamente até á morte somos “condenados” a viver. Vide como exemplo simbólico disto o Eng. Guterres. 

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