A LUTA DOS ALUNOS DO LICEU NACIONAL DE BEJA, HOJE ESCOLA SECUNDÁRIA DIOGO GOUVEIA (VI)

No seguimento dos confrontos entre estudantes e trabalhadores na Praça da República, no dia seguinte, 26 de fevereiro, realiza-se no Liceu uma RGE (Reunião Geral de Escola) para discutir e decidir o futuro da situação do estabelecimento de ensino onde, para além de alunos e professores, estão presentes representantes do MFA (Movimento das Forças Armadas). Nesta RGE confrontam-se duas posições:

 Uma defendida pelo Comité de Greve e que é a da continuação da greve. Estes alunos reafirmam que a greve do Liceu de Beja, ao contrário de todas as outras que se desenvolvem no ensino secundário, não tem como único ou principal objetivo a revogação do diploma legal do Governo sobre dispensa aos exames dos 5.º e 7.º anos. Nesta o objetivo central é outro: “a recusa da escola burguesa e o reforço da luta pela instauração de um ensino verdadeiramente popular”, pelo que a greve, ao contrário de outras desenvolvidas em escolas do Norte do País, não é manipulada pelas forças de direita, argumentação central do PCP e da UEC no combate à greve.

A outra posição, protagonizada pelos professores progressistas da escola e liderada pelo MES (Movimento de Esquerda Socialista), propõe a suspensão da greve e que as aulas dos dias seguintes sejam dedicadas exclusivamente ao debate sobre a situação do ensino no país e no Liceu em particular. Esta proposta, que visa evitar uma situação de confronto com o MFA, é justificada com a necessidade de se criarem na escola, através de um amplo debate, as condições organizativas que possibilitem o reforço da luta estudantil “ao lado da luta mais geral dos trabalhadores portugueses, pela instauração de um ensino verdadeiramente popular ao serviço das classes trabalhadoras”.

É esta última proposta que tem a maioria dos votos dos alunos e professores presentes na RGE, pelo que as aulas, nos termos da proposta apresentada, vão regressando à sua “normalidade” a partir do dia 27 de fevereiro.


Quer os alunos que votam a proposta vencedora, quer os alunos que votam a proposta pela manutenção da greve não consideram que tal desfecho constitui uma derrota para os estudantes, antes abrindo um caminho conducente a uma maior mobilização estudantil e a um efetivo esclarecimento da classe trabalhadora sobre as razões da luta dos estudantes, um dos erros da greve, uma vez que tinha ficado isolada no seio da classe operária da cidade.

Assim, suspensa a greve e iniciado o debate no Liceu, rapidamente os alunos mais implicados no processo de luta desenvolvido até então iniciam um processo organizativo em duas frentes: erguer uma associação de estudantes e aproveitarem a legislação sobre a composição dos conselhos diretivos das escolas para se fazerem eleger para a direção do Liceu.

É aqui que o Comité de Greve, derrotado na RGE de 26 de fevereiro, decide dividir-se em termos de trabalho político. Uma parte procura a eleição, em listas unitárias, enquanto representantes dos alunos, para a direção da escola. A outra parte integra-se no movimento conducente à formação da Associação de Estudantes do Liceu, processo em que os alunos ligados ao MES possuem a maioria.

É assim que no rescaldo da greve, aos representantes dos professores na Comissão de Gestão do Liceu, João Amorim, Ana Maria Batalha Ilhéu, Jorge Lima e Teresa Cunha, se juntam os alunos Francisco Tonim, Osvaldo Pina, Constantino Piçarra, Francisco Rato e Maria Fernanda Espírito Santo, os três primeiros ex-membros do Comité de Greve, órgão em que se incorpora, com poderes acrescidos, um representante do MFA, o alferes Gil Moreira, arquiteto de profissão, o qual entra para a gestão da escola a 4 de março de 1975.

(Conclusão na próxima quarta-feira)   

    

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