A LUTA DOS ALUNOS DO LICEU NACIONAL DE BEJA; HOJE ESCOLA SECUNDÁRIA DIOGO GOUVEIA (V)

Como vimos no último texto, quando dia 24 de fevereiro, segunda-feira, de manhã, os alunos chegam ao Liceu, para iniciarem a greve com a ocupação das instalações, verificam que o edifício se encontra cercado por forças do MFA e da PSP. Um grupo de professores da escola, cerca de vinte, ainda tenta, nesta segunda-feira, reunir com os representantes dos alunos, ou seja, com o comité de greve, mas são impedidos de o fazer pelo Governador Civil, que tem o comando das forças militarizadas, facto que os docentes denunciam publicamente através de comunicado.

Entretanto, os alunos respondem à decisão de pôr fim à greve, também em comunicado. Aqui reafirmam a legalidade da greve, denunciam o envio de soldados contra os estudantes, decisão tomada pelo que apelidam de partidos da burguesia e apelam a todos os estudantes e à classe trabalhadora para se solidarizarem com a greve do Liceu, uma vez que, como referem, os estudantes e os trabalhadores possuem um objetivo comum: o fim da exploração capitalista, responsável pela crise vivida no país e no ensino que continua a “formar estudantes para servirem a classe dominante que é a burguesia. E, mais uma vez enunciam um dos objetivos da greve: edificar um ensino ao serviço dos trabalhadores.

Apesar da vontade do Governador Civil em ter as aulas no Liceu a funcionar normalmente dia 25 de fevereiro, tal não acontece. A cidade está em tensão. Ao fim da tarde, pelas 19.00h cerca de três mil trabalhadores acorrem à Praça da República, convocados pelo chefe do distrito e pelos partidos e sindicatos que na reunião de 22 de fevereiro tinham decidido pôr fim à greve pela força. Nesta manifestação / comício os presentes expressam o apoio ao MFA, aprovam uma moção de confiança ao Governador Civil e um texto a enviar ao Primeiro Ministro, Vasco Gonçalves, em que afirmam a total concordância com o chefe do Governo quando este refere que os estudantes “não devem esquecer que é o povo português que paga parte do ensino que não é paga pelos estudantes”.

Em resposta a esta concentração os alunos do Liceu organizam uma manifestação de apoio à greve que partindo das traseiras do Liceu e depois de passar por várias artérias da cidade desemboca na Praça da República, vindo da rua dos Infantes, onde aí ainda se encontra a outra manifestação. Num clima de grande polarização, alguns operários metalúrgicos, mais sensíveis à ideia difundida pelo PCP de que a greve é uma manobra das forças de direita, desenvolvem um conjunto de ações violentas contra os estudantes, de que resulta um ferido grave, o estudante José Mata Pacheco de 20 anos, o grande divulgador no Liceu do jornal anarquista “A Batalha” que durante a I República tinha sido o órgão oficial da Confederação Geral do Trabalho, central sindical anarco-sindicalista.

Ainda neste dia, à noite, a Câmara Municipal de Beja reúne e, embora manifestando o seu pesar pelos acontecimentos dessa tarde à porta do município, delibera dar o seu apoio incondicional ao Governador Civil e à determinação de acabar com a greve no Liceu pela via da força, bem como solicitar a suspensão imediata dos alunos promotores da greve, ou seja o comité de greve, e dos professores seus apoiantes, uma vez que se considera que só assim será possível conseguir-se um clima de serenidade suscetível de fazer regressar as aulas à normalidade.

 A greve dos alunos do Liceu, embora não vingando, como iremos ver na próxima quarta-feira, tem uma enorme repercussão na vida da cidade, com diferentes forças políticas e sociais a pronunciarem-se sobre os acontecimentos, nomeadamente o MES, o PPD, a Assembleia de Professores da Escola Industrial e Comercial de Beja, os alunos deste estabelecimento de ensino e o executivo distrital de Beja do Sindicato dos Professores.

(Continua)

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