A LUTA DOS ALUNOS DO LICEU NACIONAL DE BEJA, HOJE ESCOLA SECUNDÁRIA DIOGO GOUVEIA (II)

Perante a paralisação das aulas no Liceu, decretada pelos professores a 13 de dezembro de 1974, os alunos, que a entendem como uma manobra reacionária de afrontamento ao processo revolucionário que se está a desenvolver, realizam uma RGA onde criticam a decisão dos docentes e decidem não regressar às aulas enquanto as suas reivindicações não sejam satisfeitas, as quais são as seguintes: a) Formação de uma comissão encarregada de proceder a averiguações sobre o envolvimento de professores com o regime deposto e saneamento destes, assim como daqueles que, pelas suas práticas enquanto docentes, violaram ao longo de anos os princípios elementares de justiça, equidade e urbanidade para com os seus alunos; b) Abolição dos estatutos do Ministério da Educação Nacional; c) Elaboração de um novo Regulamento Interno do Liceu por uma comissão paritária formada por professores, alunos e funcionários; d) Demissão da Comissão de Gestão em funções, presidida pela Dr.ª Carmem Goinhas.

Neste contexto de agudização do conflito na escola, que ameaçava manter-se no segundo período, o Governador Civil, Major Brissos de Carvalho, intervém através do seu secretário, Francisco Felgueiras, quadro do PCP, que se desdobra em reuniões entre alunos e professores, chegando-se, por fim, a uma plataforma de entendimento assente nos seguintes pontos: 1 – Os professores revogam a decisão de suspender as aulas; 2 – Os alunos suspendem a greve às aulas; 3 – Até final do período as aulas são substituídas por reuniões destinadas a debater os problemas existentes no Liceu; 4 – Os professores aceitam a constituição de uma comissão de saneamento paritária composta por docentes, alunos e funcionários; 5 – As partes aceitam ainda a formação de uma comissão paritária integrando professores, alunos e funcionários com o objetivo de elaborar um novo Regulamento Interno; 6 – Realização de eleições para uma nova Comissão de Gestão.

À margem deste acordo, com o qual termina o 1.º período, a 20 de dezembro de 1974, sem notas atribuídas aos estudantes que, por despacho do secretário de Estado da Orientação Pedagógica do Ministério da Educação, só serão dadas no início das férias do carnaval, os professores afirmam que só aceitam saneamentos se estes se realizarem pela via legal e os alunos, apesar de verem satisfeitas todas as suas reivindicações nesta plataforma de acordo, mediada pelo Governo Civil, declaram, por seu turno, que se recusarão a regressar às aulas no início do 2.º período, marcado para 6 de janeiro, se não se confirmar o saneamento dos professores Delgado Alves, Conceição Conde, Emília Ramôa e Carmem Goinhas.

Entretanto, realizam-se eleições para a nova Comissão de Gestão que passa a ter a seguinte composição: Representantes dos professores: Maria da Graça Andrade, Aldemiro de Carvalho, Deolinda Goinhas e João Amorim; Representantes dos alunos: Ramiro Alvarez Lança, João Carlos Espinho, José Manuel Espinho e Ana Isabel Rocha; Representantes dos funcionários: José Manuel Rosa, Guilherme Salvador de Oliveira, Francisco de Matos Cercas e Manuel José Tanissa.

O primeiro grande passo destinado à democratização do Liceu está dado, mas a luta dos estudantes não termina aqui como iremos ver na próxima quarta-feira.

Entretanto, o debate entre um grupo de alunos e o professor Luís Delgado Alves desenvolve-se nas páginas do Diário do Alentejo entre final de dezembro de 1974 e início de janeiro de 1975. Delgado Alves tenta defender-se, afirmando que, afinal, todos tinham colaborado com o fascismo, ao mesmo tempo que justifica as suas atitudes pedagógicas, alvo de crítica pelos discentes, em nome do “ter pulso nas aulas, não pactuando com a indisciplina”. Por seu turno, os alunos acusam-no de ter compromisso com o fascismo e de comportamento pedagógico reacionário, com a enumeração de vários exemplos ilustrativos das acusações feitas. É o estertor de quem vê o seu mundo do quero posso e mando a desabar.

(Continua)

 

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