A LUTA DOS ALUNOS DO LICEU NACIONAL DE BEJA, HOJE ESCOLA SECUNDÁRIA DIOGO GOUVEIA (Conclusão)

A greve dos alunos do Liceu de fevereiro de 1975 é o grande acontecimento político e social que ocorre na cidade de Beja antes do 11 de março, fazendo parte da primeira grande vaga de lutas sociais que se desenvolvem logo a seguir ao 25 de Abril, onde se destacam a luta dos moradores dos bairros camarários de Lisboa e Porto e as greves, no segundo semestre de 1974, dos trabalhadores dos CTT e da TAP.

À semelhança deste movimento grevista, a greve dos alunos do Liceu tem contra ela os partidos que integram o III Governo Provisório, o MDP/CDE e as forças sindicais afetas ao PCP. No apoio à greve ou, pelo menos, criticando o envio de forças policiais e militares para lhe pôr fim destacam-se o MES, o executivo distrital de Beja do Sindicato dos Professores, a Assembleia dos Professores da Escola Industrial e Comercial de Beja e um grupo de alunos deste estabelecimento de ensino.

O MES, que na reunião de 22 de fevereiro, no Governo Civil, se mostrou contrário à posição autoritária aí decidida de enviar as forças armadas para pôr fim à greve, critica, em comunicado da organização regional do Baixo Alentejo, o aparato militar em redor do Liceu, afirmando que tal era em tudo semelhante às ações policiais desenvolvidas contra os estudantes antes do 25 de Abril. Desmontando a argumentação contida no comunicado do Governo Civil saído da reunião referida, este partido diz que aí se fala que os estudantes estão a sabotar a construção do novo Portugal. No entanto, as forças que o subscrevem, escreve-se, nada fazem contra os capitalistas que sabotam diariamente a economia. Mais se diz que o comunicado do vero Civil refere a exigência que a nação faz a todos os trabalhadores, mas não se exige que os capitalistas acabem com a exploração do povo português e que a banca privada, os grandes monopólios e os latifundiários sejam nacionalizados. Por fim, o MES sublinha ser uma “enorme demagogia dizer que os estudantes são uma malandragem, esquecendo-se o papel da escola nesta sociedade e que é a de formar técnicos que vão servir a burguesia capitalista para melhor explorar os trabalhadores”.

Por seu turno, o sindicato dos professores responsabiliza o Ministério da Educação dos três Governos Provisórios pela greve, uma vez que este se tem mostrado incapaz de resolver os problemas da educação quer saneando todos os comprometidos com o regime anterior, quer concretizando uma política educacional ao serviço do povo.

A Assembleia de Professores da Escola Industrial e Comercial, reunida a 25 de fevereiro, repudia a intervenção das forças militarizadas na greve, a ameaça de despedimento sobre cerca de 20 professores do Liceu que apoiam os estudantes em luta e a mobilização feita pelo PCP junto da população trabalhadora no sentido de a colocar contra os estudantes e os professores que, sob diferentes matizes, estão com os grevistas. Denunciam ainda estes docentes a convocação da manifestação, de 25 de fevereiro, ao fim da tarde, na Praça da República, com a qual se pretende o apoio dos trabalhadores para o “processo antidemocrático e coercivo de ataque à greve dos estudantes”. No mesmo sentido se pronuncia um grupo de alunos deste estabelecimento de ensino, solidarizando-se com a greve dos seus colegas.    

O PPD (Partido Popular Democrático)) que apoia o envio das força militarizadas para o Liceu, que subscreve a convocatória da população para a concentração / manifestação da Praça da República, de 25 de fevereiro, perante a incomodidade e desconforto de alguns dos seus militantes, professores do Liceu, por se verem cercados pelas forças do exército e da polícia e ainda perante as críticas de alguns setores da população da cidade face à violência exercida sobre os estudantes na Praça da República, vem, em comunicado da comissão concelhia de Beja, criticar o papel do Governador Civil em todo o processo, numa tentativa de capitalizar em seu proveito o descontentamento gerado pela ação repressiva e antidemocrática das forças de esquerda com assento no Governo, especialmente o PCP.

A greve foi derrotada, mas desta e de outras lutas estudantis travadas no processo revolucionário decorrente do 25 de abril resulta a conquista da gestão democrática das escolas, com os professores e alunos a geri-las de forma colegial, o que hoje, 50 anos depois, não passa de uma miragem.  

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