A INTENSIFICAÇÃO DO DEBATE E DA LUTA POLÍTICA EM BEJA NO VERÃO DE 1974

Enquanto a situação política nacional vira à esquerda com a tomada de posse do II Governo Provisório, a que se soma o enfraquecimento da fação spinolista no aparelho de Estado, de que é exemplo o anúncio do reconhecimento, por parte de Portugal, do direito à independência da Guiné Bissau, Angola e Moçambique, em Beja e no distrito vive-se um clima de forte agitação política.

Os principais partidos políticos, através da realização de comícios, divulgam a sua mensagem e impulsionam a discussão política na população. De 1 de julho a 3 de agosto de 1974, o PS realiza no distrito oito sessões de esclarecimento, o PCP sete, o PPD três e o MDP doze. A todas estes comícios juntam-se duas sessões de esclarecimento do MDM (Movimento Democrático das Mulheres), uma do MJT (Movimento da Juventude Trabalhadora) e um comício conjunto destas formações políticas na capital do Baixo Alentejo. Trinta e quatro sessões de esclarecimento político em trinta e quatro dias são uma realidade bem demonstrativa da intensidade política em que Beja, o concelho e o distrito vivem nos meses subsequentes ao 25 de abril de 1974. Se a esta realidade somarmos as reuniões promovidas pelo STA para discussão com os assalariados rurais das convenções rurais de base concelhia a apresentar à entidade patronal, as sessões promovidas pela ALA e pela LPA em luta aberta na disputa da base social dos pequenos agricultores e a as promovidas por outros sindicatos em processo de formação, como é o caso do sindicato dos empregados de escritório e caixeiros, temos um quadro bem ilustrativo de um território em mudança social acelerada protagonizada pela iniciativa popular.

Apesar de toda esta efervescência política, o MDP/CDE, em comunicado datado da primeira quinzena de julho de 1974, acusa de morosidade o processo de saneamento político nas autarquias locais, uma vez que, segundo esta formação política, se encontravam à espera de homologação várias comissões administrativas de câmaras municipais e juntas de freguesia, avançando com o nome do Engenheiro Vítor Borralho como proposta para Governador Civil de Beja.

Entretanto, a comissão administrativa do município capital de distrito, recentemente eleita e empossada, debate-se com vários problemas. Um deles é o saneamento básico nas freguesias. De facto, só a Cabeça Gorda, as Neves e a Boavista possuem água e rede de esgotos a que se junta, em todas as freguesias rurais, lixeiras a céu aberto cercando as localidades. O abastecimento de água à cidade é outro problema, com a Câmara a decidir efetuar a ligação à barragem do Roxo, obra dividida em três fases (concurso de abastecimento e tubagem; Estação de tratamento com a participação da Câmara de Aljustrel e abertura, assentamento e tapamento das valas), com conclusão prevista para o verão de 1975, se houver verba, como refere o município.

Para estas tarefas de saneamento básico e outras, a Câmara de Beja, com noventa e seis trabalhadores no quadro, dos quais treze com mais de setenta anos e cento e sessenta e quatro fora do quadro, tem um orçamento onde a receita prevista para o ano de 1974 é de 8 379 262$30 e a despesa comprometida de 21 800 979$00, o que representa um déficit de 13 421 717$00. Um mundo de problemas que conduz à suspensão do trabalho de projeto para a remodelação do jardim público que estava a ser realizado pelo arquiteto Ribeiro Teles, a que se somam outras questões, nomeadamente as dificuldades em construir habitação nas freguesias rurais por falta de terreno e a vida na cidade em pleno verão onde aos domingos tudo fecha, com exceção do BAP, Chave de Ouro, Regional e Central os únicos locais que na cidade garantem, aos domingos, pequenos almoços e lanches aos turistas que a visitam. 

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