É coração do Alentejo, alma plena de planície, olhar próximo sobre a serrania e já a antever as curvas deambulantes do Guadiana. Tudo isto é o concelho de Vidigueira, num quadro que também se faz de património humano, de vinhos milenares, de pão abençoado, de fruta tocada pelo sol meridional. Traços da identidade local que têm ocupado nos últimos anos a presença do Festival Terras sem Sombra (TSS) neste singular território do distrito de Beja. Uma presença que, este 2023, se vê reiterada, ocupando lugar de destaque na programação da 19.ª temporada do TSS. A 28 e 29 de outubro a Música, Património e Salvaguarda da Biodiversidade rumam ao concelho na fronteira entre o Baixo e o Alto Alentejo.  O fim-de-semana do TSS em Vidigueira conta com a parceria do município local, da Embaixada da Áustria, da mecenas das artes Elena Probst e da Direção Regional de Cultura.

Um programa que reserva a noite de 28 de Outubro para o concerto, na igreja paroquial de Santa Catarina, a cargo de um ensemble fundado em 2004 em Amesterdão, nos Países Baixos. Atualmente, o Trio Amatis encontra-se sedeado em Salzburgo, Áustria, cidade de grandes pergaminhos artísticos, e é composto pela violinista alemã Lea Hausmann, o violoncelista britânico Samuel Shepherd e o pianista sino-neerlandês Mengjie Han. Energia, intuição, criatividade, expressividade e paixão são algumas das características que a crítica lhes reconhece e que o público aplaude com entusiasmo, vendo neles grandes figuras da cena musical dos nossos dias.

Com um currículo com atuações em 43 países e a conquista de prestigiadas competições e prémios internacionais, o ensemble foi considerado como New Generation Artists pela BBC Radio 3. Além de apresentações em muitos dos principais festivais do mundo – incluindo os BBC Proms, o Festival Verbier, Suíça e o Festival Internacional de Edimburgo –, o Trio é regularmente convidado para atuar com orquestras como a Royal Philharmonic Orchestra, BBC Wales e Frankfurt Museums Orchestra. O CD de estreia, com música de Enescu, Ravel e Britten, recebeu rasgados elogios da crítica e valeu-lhe inclusão na lista “Artists to Watch” da revista Gramophone. Desde 2015, o Trio tem trabalhado intensivamente com Wolfgang Redik (Vienna Piano Trio) e Rainer Schmidt (Hagen Quartet).

Em Vidigueira, o Trio Amatis apresenta-se com um concerto que percorre três séculos de música europeia através de peças fundamentais de Joseph Haydn e Felix Mendelssohn, além de uma brilhante incursão na contemporaneidade, mercê de uma interessante aproximação ao trabalho da sueca Andrea Tarrodi, compositora nascida em 1981 e cuja obra – reveladora de fina sensibilidade para o mundo atual – tem inspirado novas gerações de autores e intérpretes.

“Tornar Visível o Invisível: Os Passos da Semana Santa de Selmes”

Porque de identidade e história também se faz a programação do TSS, a tarde de 28 de outubro (15h00) conta com uma imperdível visita ao Património, no caso vertente à aldeia de Selmes, povoado antigo na freguesia com o mesmo nome, integrada no concelho de Vidigueira em 1854. Sob orientação do historiador de arte José António Falcão e da historiadora Rosa Trole, profundos conhecedores do local, os participantes na atividade contam com a temática “Tornar Visível o Invisível: Os Passos da Semana Santa de Selmes”. Nos silêncios que o casario acolhe, um conjunto de nichos em excelente estado de conservação recria a sequência de Passos utilizados nas Procissões da Semana Santa, num convite à população para a prática devocional. O exercício da Via Sacra mereceu da arte barroca uma expressão de apego à teatralidade e ao fausto decorativo. Facto patente em Selmes, num conjunto de seis nichos que transforma estes elementos de função simples em construções de forte carácter no tecido urbano. A atividade de sábado reserva a oportunidade de escutar, na voz das mulheres de Selmes, uma vertente do património imaterial local, os Martírios do Senhor, peças do cancioneiro popular religioso que estão atualmente a ser alvo de um intenso esforço de recuperação. Todas estas marcas da devoção local merecem, presentemente, a preparação de uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. 

“Tudo à Mão, como Manda a Tradição: A Colheita Artesanal da Azeitona”

Num concelho de feição rural, no cruzamento da planície com a serra e com o rio, de montado, pasto para o porco alentejano; de flora silvestre, ‘berço’ para magníficos méis; de laranjais, searas e vinhas, a ação dedicada à Salvaguarda da Biodiversidade, olha para o olival na sua expressão mais tradicional. Desta forma, a atividade da manhã de 29 de outubro (09h30), aponta para o viço dos campos outonais e convida os participantes a contactarem de perto com saberes e fazeres relacionados com a azeitona e o azeite. “Tudo à Mão, como Manda a Tradição: A Colheita Artesanal da Azeitona”, com ponto de encontro no Museu Municipal, percorre um local emblemático da freguesia de Selmes: a Quinta de Nossa Senhora das Neves (Monte Sequeira) e ermida homónima, os seus olivais tradicionais e o seu lagar, mais moderno. Mote para numa atividade orientada por José Fernando Palhete (engenheiro agrónomo), Cláudia Raminhos (engenheira agrónoma) e Joaquim José Galante de Carvalho (agricultor), com os participantes envolvidos num ato coletivo materializado em práticas milenares ligadas ao mundo mediterrânico: do varejo da azeitona, à sua colheira, da visita ao lagar, às técnicas para obter o “ouro líquido”, com a possibilidade de todos os que se juntarem à atividade de colherem a sua azeitona e de a levarem para casa. 

A programação da 19.ª temporada do Festival Terras sem Sombra conta com um novo fim-de-semana de atividades em Arraiolos (11 e 12 de novembro), Montemor-o-Novo (2 e 3 de dezembro), Sines (16 de dezembro) e Évora (data a confirmar).

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