A assinatura do acordo decorreu no Centro Cultural El Hospital Vivo, da Diputación Provincial de Badajoz, à margem da presença do Festival Terras sem Sombra na cidade espanhola, num momento que ultrapassou o plano estritamente musical e assumiu um claro significado estratégico para os territórios de baixa densidade do interior ibérico.

O protocolo foi subscrito pela Sociedade Filarmónica de Badajoz, entidade organizadora do FIMB, representada pelo seu presidente, Javier González Pereira, e pela Pedra Angular – Associação de Salvaguarda do Património do Alentejo, responsável pelo Festival Terras sem Sombra, representada pelo presidente da direção, José António Falcão.

Este entendimento surge num contexto particularmente relevante, marcado por um ciclo de grandes iniciativas culturais de dimensão europeia, como a Mostra Espanha 2026, a Mostra Portugal 2027, Évora Capital Europeia da Cultura 2027 e as comemorações do Ano Beethoven, que assinalam, à escala continental, o centenário da morte do compositor. Neste quadro, a cultura é assumida como instrumento de coesão territorial, afirmação identitária e projeção internacional.

No âmbito da parceria agora estabelecida, os dois festivais comprometem-se a desenvolver atividades conjuntas de carácter plurianual, incluindo a preparação de candidaturas a fundos europeus, nacionais e regionais, bem como projetos comuns de programação artística, investigação e edição. O acordo prevê ainda iniciativas de valorização da música e do património musicológico e a divulgação de autores, intérpretes e musicólogos de referência da Extremadura, do Alentejo e do Ribatejo.

A formalização do protocolo foi antecedida pelo concerto “O Menino nascido éi!” (¡El Niño nacido es!: El Canto alentejano y las tradiciones de Navidad y Año Nuevo), que registou lotação esgotada e contou com a participação do Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento e de Pedro Mestre na viola campaniça.

Antes do espetáculo, usaram da palavra várias personalidades institucionais, entre as quais Ricardo Cabezas, deputado responsável pelas áreas da Identidade Cultural, Desporto, Juventude, Bem-Estar Social e Cooperação Internacional; Cláudia Boesch, cônsul-geral de Portugal em Sevilha; José Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo; Ana Paula Amendoeira, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo; Javier González, presidente da Sociedade Filarmónica de Badajoz; e José António Falcão, diretor-geral do Festival Terras sem Sombra.

Foi transversal às intervenções a sublinhação do papel da cultura como fator de aproximação entre os dois lados da fronteira ibérica e como resposta consciente à excessiva centralidade dos grandes centros urbanos. Destacou-se a capacidade destes territórios de baixa densidade para gerar projetos culturais altamente qualificados, com ambição europeia, sem abdicar das identidades, memórias e modos de vida que os definem.

O Festival Ibérico de Música de Badajoz, criado em 1973, realiza-se anualmente nos meses de maio e junho e apresenta uma programação que percorre vários períodos e estilos musicais, da música medieval à criação contemporânea, incluindo jazz, com especial atenção à música de câmara e aos intérpretes da Extremadura e de Portugal. É considerado o único evento transfronteiriço do género na Península Ibérica.

Já o Festival Terras sem Sombra, fundado em 2003, é um projeto itinerante da sociedade civil que promove a descentralização cultural e a valorização do Alentejo e do Ribatejo como territórios de excelência musical, cultural e patrimonial, integrando concertos, master classes, conferências, visitas ao património e ações de salvaguarda da biodiversidade.

A presença em Badajoz assinalou o encerramento da 21.ª temporada do Terras sem Sombra, dedicada ao tema “Autoras, Intérpretes, Musas: O Eterno Feminino e a Condição da Mulher na Música (Séculos XIII-XXI)”. O festival regressa aos palcos alentejanos em fevereiro de 2026, com o programa da 22.ª temporada a ser anunciado oportunamente.