Serpa: Concluída primeira campanha arqueológica no recinto de fossos de São Brás 3
Está concluída a primeira campanha de escavações arqueológicas no recinto de fossos de São Brás 3 em Serpa. Os trabalhos decorreram entre 8 e 25 de setembro.

Trata-se de um importante sítio da Pré-História do atual território português, desde há muito conhecido, mas só agora abordado no contexto de um projeto de investigação científica.
Intitulado “NUCLEUS – Arquitetura e biografia do centro de um recinto de fossos (S. Brás 3 - Serpa)” este projeto aprovado pela tutela do património, está a ser desenvolvido pelo núcleo de investigação da ERA Arqueologia S.A., sob direção de António Carlos Valera, por solicitação da câmara de Serpa, que suportou financeira e logisticamente a campanha de escavações.
Esta iniciativa municipal, que contou igualmente com a autorização e colaboração do proprietário do terreno (Olicat. Lda.), dá continuidade a uma sequência de apoios à investigação e divulgação dos recintos de fossos pré-históricos do concelho, enquadrada numa política de proteção e valorização do património municipal.
De acordo com o município “nesta primeira abordagem ao sítio, os objetivos passavam por completar o levantamento geofísico do sítio (espécie de radiografia ao solo que permite ver o que está enterrado sem ações intrusivas) e fazer um conjunto de sondagens para começar a caracterizar as estruturas presentes na sua área central e obter material que permitisse iniciar um programa de datações e de análises complementares de materiais.”
A autarquia apresenta os resultados preliminares nomeadamente o levantamento geofísico que foi concluído, revelando um complexo recinto de grandes dimensões (entre 8 a 10 hectares) composto por mais de uma dezena de fossos, de planta de tendência elipsoidal e com um conjunto de fossos de desenho mais circular que estabelecem uma área central descentrada dos recintos elipsoidais, num design global pouco comum nos recintos peninsulares.
Quanto às as sondagens realizadas na área mais central (deixada por plantar para que a investigação arqueológica se pudesse realizar) visaram permitir caracterizar o fosso que define o recinto mais interno, identificar e intervencionar um conjunto de fossas, identificar um segundo fosso que envolve o primeiro e começar a perceber uma espécie de corredor de 60 metros que cria um caminho de acesso ao recinto central.
Esta campanha permitiu ainda recolher material arqueológico, sobretudo cerâmico e faunístico. Se o primeiro permite atribuir desde já uma cronologia genérica da Idade do Cobre (3.º milénio a.C.) aos contextos intervencionados, o segundo permite obter informações sobre os animais consumidos e respetivas estratégias de criação e caça, assim como começar a desenvolver um programa de datações absolutas de radiocarbono para o sítio e de estudos de mobilidade de animais através de análises isotópicas.
Com esta iniciativa, as entidades envolvidas dão um novo impulso à investigação de um dos mais importantes fenómenos da Pré-História (Recintos de Fossos), que no concelho de Serpa tem um dos territórios com maior densidade deste tipo de património pré-Histórico em Portugal.
O projeto tem a duração prevista de quatro anos e é acompanhado de várias ações de divulgação pública e científica a nível nacional e internacional. O sítio de São Brás 3 já faz parte do roteiro Paisagens Ancestrais (paisagemancestral.pt), que pretende ativar patrimonialmente o fenómeno dos recintos de fossos pré-históricos, levando-o ao grande público.
