A peça, com interpretação de Ana Meira e Rosário Gonzaga, vai estar em cena no centenário Teatro Garcia de Resende, no centro histórico de Évora, até dia 23 deste mês.

A estreia está marcada para as 19:00 de quinta-feira, disse a companhia alentejana, explicando que o espetáculo é apresentado sempre a essa hora de quarta-feira a sábado, enquanto ao domingo ‘sobe ao palco’ às 16:00.

Segundo a encenadora, Sofia Lobo, citada pelo Cendrev, “Pó e Batom” é “uma fantasia lírica de Esther F. Carrodeguas, a partir de duas conhecidas mulheres de Santiago de Compostela”, na Galiza, em Espanha.

“Maruxa e Coralia Fandiño Ricart são duas irmãs que todos os dias cumprem escrupulosamente o mesmo ritual, saindo às duas em ponto para passear, vestidas e maquilhadas de forma garrida, repetindo percursos e enfrentando a cinzenta sociedade franquista que as marginaliza e maltrata, por serem de família republicana anarcossindicalista”, resumiu.

Trata-se de um “par inseparável que reinventa o sentido da vida, ora de forma cómica, ora ácida, resistindo e sobrevivendo em situação muito adversa”.

“São galegas, mas reconhecemo-las em outros lugares e outros tempos, ao percorrermos a ponte que vai do particular ao universal, como pode acontecer quando temos nas mãos uma peça de teatro tão bela como esta”, realçou Sofia Lobo, no dossiê de imprensa do espetáculo.

Argumentando que, para si, “trabalhar no Teatro Garcia de Resende será sempre da ordem da magia”, a encenadora referiu que, “se Coralia e Maruxa fossem personagens inventadas, o texto de Esther F. Carrodeguas não seria menos bonito”.

“Mas, conhecendo a vida das irmãs Fandiño Ricart - pela voz de outros, não pela sua, de que não há registos —, esta peça é uma pérola”, asseverou.

A autora do original “cria a partir do que se sabe e inventa em poesia o que é só dela, e agora também nosso”, acrescentou.

“Dá-nos passeios, ruas, sol e chuva, ganhos e perdas, dia e noite, memórias negras e outras nem por isso, sorrisos, silêncios, pó e batom, fontes sem peixes, Sanson e bolachas maria, fantasias, muita cumplicidade e o mar que leva e traz, que apaga e refaz, tudo envolto em versos lindos como ondas que repetem sons e palavras, que trazem dentro uma cadência e uma resistência”, destacou.

Para a própria Esther F. Carrodeguas, num texto também incluído no dossiê de imprensa, “Pó e Batom” é “um exercício de justiça poética que se soma a muitos outros” sobre “a vida das conhecidas Marías de Santiago de Compostela, a quem já é hora de tratar pelo nome e, principalmente, pelo apelido: Fandiño Ricart”.

“Maruxa e Coralia escondem por trás de uma espessa máscara de maquilhagem uma grande história de crueldade. Cruel é aquele, ou aquela, que faz sofrer sem ter pena ou, inclusive, tendo prazer. Há, por isso, uma história de prazer do outro lado da moeda desta história encharcada em violência institucional, ideológica, política, social, económica, machista, de género e sexual”, explicou a autora.

Mas é também, acrescentou, “uma história de valentia” e “de coragem, de luta, de irreverência — civil — e de dignidade”, isto é, “de liberdade”, porque é, no fundo, “uma história sobre a loucura necessária para viver neste mundo de loucos (e loucas)”.

Segundo o Cendrev, as sessões destas quinta e sexta-feira têm tradução em língua gestual portuguesa.

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