Segundo os agricultores desta região, que abrange os concelhos alentejanos de Castro Verde e Almodôvar e parte dos municípios de Aljustrel, Mértola e Ourique, os custos dos fatores de produção ligados à atividade agrícola têm “disparado” de forma “exorbitante” nos últimos meses.

“Temos aumentos na ordem dos 215% nalguns adubos e noutros de 250%”, revela à agência Lusa o agricultor Carlos Sequeira, de 48 anos.

De acordo com este produtor, que tem a sua exploração na freguesia de Santa Bárbara de Padrões (Castro Verde), também o preço da farinha para o gado subiu “35 a 40%”, enquanto o do gasóleo agrícola aumentou “na ordem dos 65%”.

“Estamos a falar do setor primário e isto vai-se repercutir em muita coisa”, alerta Carlos Sequeira, considerando que, perante este cenário, o preço dos produtos “na prateleira do supermercado terá de subir substancialmente”.

Alguns quilómetros mais adiante, no Monte dos Poços, junto à antiga estação ferroviária de Carregueiro (Aljustrel), os lamentos repetem-se.

“Já há muito que o aumento dos fatores de produção é muito superior ao aumento da venda de animais ou cereais”, mas, “nestes últimos meses, tem sido uma coisa que nos deixa praticamente sem margem”, observa Rui Saturnino, de 41 anos.

Este agricultor dá à Lusa o seu próprio exemplo, explicando que, na presente sementeira das culturas de outono/inverno, teve de abdicar “de colocar os adubos” ou “os nutrientes necessários” em algumas parcelas de terreno.

“Sei que depois a colheita não será tão boa”, mas, “se não cortar em algum lado, não consigo manter a exploração”, diz.

Para Rui Saturnino, “tudo isto junto vai contribuindo para que [a agricultura] se torne insustentável” nesta zona alentejana, prevendo que “muita gente abandonará” os campos “se não houver um travão na subida dos preços”.

No Campo Branco, predomina a pecuária em extensivo e a produção de cereais em sequeiro, atividades menos rentáveis do que a agricultura de regadio.

Com o aumento do preço dos fatores de produção a juntar-se à seca prolongada, “a breve trecho” a atividade agrícola na região poderá ser “inviável”, admite mesmo José da Luz Pereira, presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), com sede em Castro Verde.

Segundo este responsável, os agricultores mais velhos irão “continuar a trabalhar na terra até praticamente deixarem de existir”.

“Mas os mais novos, naturalmente, estão muito mais apreensivos, porque estão a ver que têm o seu futuro muito comprometido”, avisa.

Nesse sentido, José da Luz Pereira considera ser indispensável uma intervenção do Estado e da própria União Europeia (UE), tendo em vista a mitigação do problema.

“Isto não é só uma situação que se está a verificar em Portugal e no Alentejo. É um problema a nível da Europa e a própria UE terá de tomar medidas para poder salvar a agricultura europeia”, conclui o presidente da AACB.

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou, esta semana, para a “incontornável” subida dos preços dos produtos agrícolas, face ao aumento dos custos dos fatores de produção, como os combustíveis e adubos.

Também a Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), no final de outubro, manifestou-se apreensiva com as consequências do aumento dos preços dos combustíveis e pediu ao Governo medidas de apoio ao setor agrícola e que mitiguem os efeitos daquela subida.

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