
3 - San
一 (Yī): «PASSAR A PERNA»
Por inesperada coincidência, num só dia da última semana ouvi a expressão ser proferida por três pessoas diferentes, no que diz respeito a situações vividas nos respectivos locais de trabalho. Todas se queixavam do mesmo: confiantes, não se haviam prevenido e acabaram por ser negativamente surpreendidas. Uma delas reclamava de uma colega que, sem qualquer pudor, assumia a co-autoria de determinados trabalhos, apesar de arranjar sempre desculpas, em regra moralmente válidas, para não conseguir colaborar na sua fase de preparação. Mas, como era loquaz e convincente, acabava por “roubar a cena” aos restantes colegas por altura das apresentações orais às chefias, mostrando-se como líder do grupo; uma outra, lastimava a sua impotência ao observar que um colega menos antigo que ela na empresa, aparentemente em igualdade de circunstâncias quanto ao vínculo laboral, com nítida conivência superior (cunha???) e em paz e harmonia geral, posicionava-se pouco a pouco para vir a ocupar a única vaga disponível em quadro de pessoal, arriscando-se a queixosa a ficar “a ver navios” e, mais uma vez, “a marcar passo”; por último, uma outra protestava quanto a um colega especialista em expor à chefia determinadas falhas dos colegas, vendo isso como um meio para ficar, a seguir, com os louros.
Curiosamente estes lamentos tiveram origem em situações laborais, mas o fenómeno “passar a perna” ou, como dizem os ingleses, “pull a fast one”, acontece e acontecerá em todas as circunstâncias e em todas as vidas. Porém, não é por isso que deixa de ser uma falcatrua e uma trafulhice. Mesmo que aparentemente surja envolta num véu de pureza e de ingenuidade, acompanhada de um qualquer tipo de legitimidade, que lhe sirva de desculpa;
二 (Èr): «A SOCIEDADE DO CANSAÇO»
Num evento académico ao qual assisti também na última semana, revi algumas pessoas que não via há algum tempo. Duas delas, a dada altura e num determinado contexto, disseram-me que precisavam estar sempre ocupadas, a fazer alguma coisa de importante. Perguntei o que é que isso significava. Responderam-me que tinham de produzir, pois só assim seria possível alcançar o sucesso e o reconhecimento social. Percebi que não era a ocasião nem o local para aprofundar o assunto. Apressei um último cumprimento e afastei-me. Se a primeira parte da explicação me pareceu aceitável, a segunda desgostou-me: em vez de priorizarem a sua construção como seres humanos, encarando o trabalho que desenvolvem como um instrumento ou um meio para o conseguir, valorizavam os critérios da “sociedade do cansaço” quanto ao que significa ter êxito e triunfar. Escolhas e ponto;
三 (Sān): «IM WESTEN NICHTS NEUES»
Também na passada semana vi o filme de guerra “Im Westen nichts Neues”, traduzido em Portugal para “A Oeste Nada de Novo”. Disponível na Netflix, a longa-metragem alemã, de 2022, é dirigida por Edward Berger. O filme destaca essencialmente a história de Paul Bäumer, um jovem de 17 anos, estudante do ensino secundário, que se deixa seduzir pelo discurso patriótico de um professor e acaba por se voluntariar, como soldado, para servir na Primeira Guerra Mundial, sem que tenha a mínima noção daquilo que o espera. O filme mostra a brutalidade do conflito de uma forma crua, intensa e cruel, incluindo a ausência de sensatez das altas esferas militares e de poder. Embora este assunto já tenha sido tratado por outros realizadores em filmes do género, neste caso e a meu ver, Berger consegue ir mais além e enriquecer a obra cinematográfica. Aliás, ao contrário da realidade que estamos actualmente a viver: é assustador perceber que a História parece não ter mudado nada, se considerarmos o que se passa na guerra da Rússia/Ucrânia. Nesta linha de pensamento, saliento inclusive a jornada do general Friedrichs no filme, um personagem secundário que representa a leviandade de todas as guerras e que, não sendo real, poderia ter sido: Friedrichs insiste em prosseguir a luta nos minutos finais do conflito, provocando mais um acréscimo de mortes, de entre as quais, a de Paul. Motivo? Orgulho pessoal, glória, prestígio… vá-se lá saber! A humanidade no seu melhor, ontem e hoje. Por conseguinte, a oeste nada de novo!
Nota: O título e os três números que indicam a sucessão das três ideias apresentadas no texto, em chinês??? Talvez levada pela circunstância de ter comido num restaurante chinês também na última semana (semana variada e produtiva) … ou pelo facto de o número três ser um número perfeito para os chineses, já que representa a junção do céu e da terra, de onde resulta a humanidade…ou simplesmente por me ter apetecido!
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