ÁGUA, SOL E GUERRA EM SEBASTOBOL

O aforismo europeu do final do sec. XIX de que o necessário para a agricultura ser atividade rentável era preciso “Água, Sol e guerra em Sebastopol.” Em 2022 não é bem assim. A escassez de cereais e oleaginosas, vindas da mesma zona de então, a Russia-Ucrania, trás agora muito mais efeitos além do aumento desses preços. Um deles é provocar um enorme aumento nos custos diretos da produção. A energia, atualmente, gerada através do petróleo, substituiu a tração animal e a força humana dos tempos da Guerra da Crimeia.

Ao mesmo tempo que que uma Europa (União Europeia) recheada agora de “set-a-side” e áreas “protegidas” onde não é permitida ou está severamente limitada a produção de alimentos (com Portugal á frente, mais de 30% do país, como em quase tudo que implique não produzir…). Esta conjunção de fatores obriga a União Europeia a importar de países terceiros alimentos e produtos agrícolas sem estarem sujeitos, como deveriam, às rígidas regras da segurança alimentar, por exemplo com o uso de pesticidas e outros agroquímicos rigorosamente proibidos na nossa agricultura europeia, provindos muitas vezes de desflorestações gigantescas, isto sem falar nos custos sociais da mão de obra nesses países, mas a isso a sociedade ocidental é mais permissiva. Estamos habituados ao usar desde a roupa e calçado até objetos tecnológicos e afins fabricados nesse tipo de condições.

A Segurança Alimentar europeia deixou de ter só um significado. Nos últimos vinte anos já só nos preocupávamos com ingerir alimentos seguros do ponto de vista da saúde e do ambiente. Agora voltamos a ter de procurar que os alimentos NÃO faltem. A criação da Política Agrícola Comum PAC -a primeira Política Comum da então CEE-foi pensada assente neste pressuposto perigo, num contexto de recém terminada a II Guerra, bem mais europeia que mundial.

A ideia consagrada na teoria económica marxista e também nas de muitos outros economistas bem mais liberais, da “função social da terra”, alimentar a humanidade, (ideia também, vincadamente, implícita na Constituição Portuguesa em vigor) faz ainda mais sentido em tempo de crise e guerra, do que a “função de desfrute social ou individual da paisagem” que a Europa rica e urbana e ainda o Portugal, mais periférico, suburbano e financeiramente sustentado por ela evidenciam preferir.

O agora empossado, (dois meses depois de conseguir uma maioria absoluta!!!,) novo-velho governo, acomodou á pressa no seu programa a anterior acepção de segurança alimentar, na tutela da mais insipida das ministras. Com crenças vazias quem pode ser sério em política, sem ter um plano prático e coerente para sociedade?

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