“Não se implementando medidas de emergência para conservação da espécie, possivelmente vai-se extinguir dentro de poucos anos”, conclui o estudo liderado por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-BIOPOLIS) da Universidade do Porto e hoje publicado.

A investigação procurou analisar a evolução das populações de sisões em áreas protegidas designadas por Zonas de Proteção Especial (ZPE) e áreas aleatórias fora, com base nos censos nacionais da população de 2003-06, 2016 e 2022.

A população nacional do sisão, cuja quase totalidade se concentra no Alentejo, terá declinado perto de 80% desde 2006 e 60% nos últimos seis anos, indica o estudo que procurou também compreender como variáveis associadas às alterações de uso do solo, produção de gado e expansão de infraestruturas (como estradas e linhas elétricas) influenciaram esta tendência de declínio.

Fora das ZPE, onde a espécie está “quase extinta”, a conversão da agricultura, antes essencialmente cerealífera, para regadios dominados por culturas permanentes como o olival ou o amendoal “representaram uma total perda de habitat para esta espécie que depende de habitats agrícolas abertos”, concluiu o estudo.

Já dentro das ZPE, “o abandono do apoio dos cereais em detrimento da produção de gado, essencialmente bovino, terá contribuído para a conversão de áreas de sequeiro para pastagens permanentes e culturas forrageiras” que, embora mais favoráveis para a nidificação, são cortadas em plena época de nidificação, destruindo ovos, crias e por vezes os adultos.

“As práticas agrícolas implementadas em Portugal nas últimas décadas estão a resultar na perda e/ou degradação de áreas agrícolas abertas, impactando o sisão e outras espécies altamente ameaçadas que dependem de sistemas agrícolas extensivos como a abetarda ou águia-caçadeira”, refere o primeiro autor do estudo, João Paulo Silva, citado em comunicado.

O investigador do CIBIO acrescenta que “mesmo práticas incentivadas por medidas agroambientais não aparentam ser compatíveis com a conservação do sisão”, já que “a zona estepária mais importante do país coincidente com a região de Castro Verde com uma medida agroambiental dedicada e com um bom nível de adesão de agricultores registou um declínio de 45% da população sisão em apenas seis anos”.

Em comunicado, o CIBIO destaca que em 2016 já tinha sido dado o alerta sobre o declínio acentuado da espécie, e agora em 2022 esse declínio é ainda mais forte, o que revela que a atual estratégia de conservação para a espécie (ou falta dela) não está a ser minimamente eficaz.

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