Num comunicado conjunto enviado à agência Lusa, os dois organismos referem que o território assiste “a uma luta” por este recurso, numa altura em que o “sul de Portugal atravessa uma aflitiva crise hídrica” e a água da barragem de Santa Clara está “no seu nível mais baixo de sempre”.

E acrescentam que “é neste contexto de escassez” que foi tornado público a “intenção do Ministério da Agricultura e Alimentação (MAA), através da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), de exonerar o órgão diretivo da Associação de Beneficiários do Mira (ABM), que gere a água de Santa Clara”.

“Perante esta situação de rutura entre as forças do sudoeste de Portugal, em luta pela água cuja escassez se vem tornando inequívoca há uma década, fica demonstrada a irresponsabilidade com que este recurso foi gerido nos últimos anos” e “o (des)ordenamento do território, no qual se permitiu ou ignorou o avanço galopante da agroindústria”, sublinham.

Os dois movimentos consideram ainda “caricato” que “a preocupação” do Ministério da Agricultura e Alimentação recaia “na proteção dos interesses de uma meia dúzia de poderosos empresários agrícolas”, em vez de “garantir uma gestão sustentável da pouca água disponível” na albufeira de Santa Clara.

Por isso, apelam “à união pela defesa do território e de todos os que nele habitam e dele dependem” e pedem ao Governo “que governe e ao Estado que administre, no caso concreto, a região de Odemira, tendo como premissa o bem comum e não a manutenção de privilégios de que gozam incompreensivelmente alguns setores”, como “o lobby dos frutos vermelhos”.

O JPS e o SOS Rio Mira solicitam ainda ao Governo uma análise criteriosa do “que faz sentido ser cultivado e regado no PRM [Perímetro de Rega do Mira]" e "em que dimensão e com que práticas”.

“Na verdade, já se percebia uma pressão em Lisboa sobre os recursos hídricos do Sudoeste Alentejano (...), mas é preciso que haja consciência que se a intenção do MAA e da DGADR avançar, irá acentuar o mal estar social e ambiental que há muito se sente na região, assim como a delapidação ainda mais rápida dos recursos hídricos”, lê-se no comunicado.

No documento, o JPS dá ainda conhecimento de uma reunião, que decorreu esta semana, com o ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, sobre “alguns aspetos relacionados com água e conservação da natureza”.

No encontro, segundo o movimento, o governante terá indicado que existem “condições estritas para a utilização rigorosa e excecional deste recurso até à cota 104 da barragem de Santa Clara, abaixo da qual será apenas garantido o abastecimento público” e que “está em análise” a “possibilidade de instalar uma dessalinizadora no concelho de Odemira, através de financiamento privado”.

Servido pela barragem de Santa Clara, no concelho de Odemira, o Aproveitamento Hidroagrícola do Mira abrange uma área de 12.000 hectares neste município e no de Aljezur, no distrito de Faro.

A albufeira de Santa Clara, que tem capacidade para armazenar 485.000.000 m3, conta apenas 36% do seu volume máximo, equivalente a 174.665.120 m3.

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