Em comunicado enviado à agência Lusa, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) indicou ter apresentado, no âmbito da consulta pública relativa ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da central o seu parecer e sugestões para “a melhoria estrutural do projeto”.

“Particularmente preocupante, neste caso, é a falta de planeamento estratégico que resulta na proposta de construção de cerca de um GW (gigawatt) em três grandes centrais solares neste território e consequentes impactes cumulativos”, assinalou.

O GEOTA avisou que já existe um “elevado número de projetos de energias renováveis previstos para esta região, particularmente no município de Moura (distrito de Beja)”, vincando que os respetivos “impactes cumulativos no ambiente e comunidades locais parecem não estar acautelados”.

“O EIA em consulta pública não refere esta possibilidade de serem realmente instalados os múltiplos projetos planeados para o território”, frisou, considerando que “é necessário analisar de forma estratégica a implementação de projetos” para “acautelar impactes cumulativos”.

O projeto da denominada Central Solar Fotovoltaica do Alqueva é promovido pela empresa Solid Tomorrow, que pretende investir 365,5 milhões de euros, a distribuir por três anos.

De acordo com o resumo não técnico do EIA, a central vai ter uma potência instalada de 431,53 megawatts-pico (MWp) e uma potência máxima nominal de 354 megavoltamperes (MVA).

Ocupando cerca de 570,46 hectares, será constituída por 692.970 módulos e terá uma linha de muito alta tensão para injetar a energia produzida na Rede Elétrica de Serviço Público.

No comunicado, o GEOTA salientou que “parece haver falta de planeamento estratégico e pouca clareza sobre a viabilidade técnica da utilização do ponto de injeção na rede de transporte de eletricidade da barragem do Alqueva para a capacidade total prevista”.

Sublinhando que a barragem tem uma capacidade instalada de produção de eletricidade de 512 MW (megawatts), a organização questionou “a viabilidade técnica de os três projetos usarem o mesmo ponto de injeção, quando a produção terá um perfil semelhante para as várias centrais fotovoltaicas e será quase o dobro da capacidade de injeção no pico de produção (990 MW)”.

“Caso seja necessário reforçar a rede elétrica, a justificação para a localização destes projetos neste território perde-se e poderá haver localizações alternativas mais adequadas”, sustentou.

Este grupo ambientalista defendeu igualmente que a “dimensão exagerada do projeto amplia os impactes negativos e significativos nos solos, linhas de água, paisagem, fauna e flora”, indicando, por exemplo, que a construção da central “prevê o abate de 104 azinheiras”.

“Considerando a dimensão, as medidas de mitigação e de compensação são insuficientes e apresentam um potencial reduzido e pouco quantificável”, assim como estão previstas “poucas contrapartidas para a socioeconomia local, ao nível de emprego e outros benefícios”, acrescentou.

O GEOTA realçou que, se a área ocupada com painéis solares for reduzida, haverá “mais espaço” para promover medidas de mitigação e de compensação e o projeto também “poderia gerar mais benefícios para a população local”, caso fosse incentivado “o aproveitamento da área da central para fins múltiplos e várias atividades económicas (agrícolas, apícolas, pastorícias, lúdicas)”.

“Os promotores podem apoiar técnica e financeiramente a criação de uma comunidade de energia renovável em Moura e a instalação de sistemas fotovoltaicos de pequena dimensão nos edifícios ou em terrenos próximos do aglomerado populacional”, foi outra das sugestões apresentadas.

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