Ouviram-se apitos em frente às instalações do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), onde se concentraram algumas dezenas de técnicos de emergência pré-hospitalar, com cartazes a reivindicar a revisão da carreira e o respeito pela legislação laboral, ambulâncias com equipamento adequado, formação e reconhecimento do risco e desgaste rápido a que estão sujeitos.

“No caso de um enfarte agudo do miocárdio, respire fundo. Podemos dar-lhe oxigénio, mas não podemos dar-lhe o que merece”, avisava-se num cartaz, enquanto noutro a conhecida figura popular do Zé Povinho fazia o tradicional manguito.

“A adesão à greve está muito próxima dos cem por cento”, adiantou Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar (STEPH), recordando que “os serviços mínimos deste serviço são elevados, cerca de 80 por cento do dispositivo”.

Ainda assim, será causado “algum transtorno” ao serviço, estimou. Em Lisboa e Porto, “as ambulâncias que podiam parar estão paradas”, exemplificou.

“Os serviços mínimos que hoje, em dia de greve, estamos a garantir são superiores àquilo que o INEM consegue garantir vários dias ao longo do ano”, comparou. “A emergência médica já está neste estado e, se nada for feito, daqui para a frente só vai piorar”, frisou.

Até porque a proposta de Orçamento do Estado volta a introduzir o limite às horas extraordinárias. “Vai haver ainda mais ambulâncias paradas, porque os técnicos não vão poder fazer tantas horas extraordinárias”, antecipa Rui Lázaro.

“Eu ganho menos hoje do que ganhava em 2000”, contou à Lusa a técnica de emergência pré-hospitalar Fátima Silva, do CODU Porto.

“Tenho 31 anos de casa e ganho mais do que uma colega que entra agora, uma insignificância”, lamentou, explicando assim que exista um concurso aberto para 178 vagas e pouco mais de 40 tenham sido preenchidas. “É para ver a desmotivação”, assinalou.

“Tentamos fazer o que é possível… [mas], para podermos socorrer alguém (…), também temos de estar protegidos”, frisou Tiago Santos, técnico de emergência pré-hospitalar que está nas ambulâncias desde 2016 (entrou no último concurso).

“Quando entro numa ambulância, não sei se consigo chegar ao destino, porque não sei se a ambulância vai ter alguma avaria mecânica devido à idade excessiva que (…) já tem, por exemplo, e se não vou ter um acidente e, em vez de ir salvar uma pessoa ou duas, vou criar mais quatro ou cinco vítimas. É um risco diário a que estamos sujeitos devido à falta de condições que temos para trabalhar”, partilhou.

O STEPH acusa a direção do INEM de não ter cumprido “os compromissos” assumidos numa reunião realizada em julho com o Ministério da Saúde.

“É tempo de o Ministério da Saúde e da tutela assumirem o poder tutelar que têm sobre o INEM e promoverem as mudanças necessárias”, instou Rui Lázaro, acrescentando que, desde julho, a direção do INEM não contactou o sindicato.

“Não entendemos do que está o Ministério da Saúde à espera para abrir um concurso para arranjar alguém mais competente para esta função”, frisou.

“Ainda esta semana, um trabalhador foi ameaçado porque não realizou um registo ao abrigo de uma greve de zelo que está em vigor (…). Isto é coação, perseguição de trabalhadores”, denunciou, instando o Ministério da Saúde a “apurar a responsabilidade política” por este tipo de ações.

A greve de técnicos de emergência pré-hospitalar começou as 00:00 e termina às 24:00 de hoje.

Comente esta notícia

Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegar estará a aceitar a sua utilização.