A assinatura do contrato de doação de bens culturais do espólio pela escultora Noémia da Cruz Guerreiro, viúva do artista, ao município de Vila Franca de Xira, está marcada para as 15:00, no Museu do Neo-Realismo, naquela cidade, onde está patente uma exposição que lhe é dedicada.

Contactada pela agência Lusa sobre a doação, fonte da autarquia indicou que a representação da obra de Jorge Vieira na Coleção de Artes Plásticas do museu "é significativa”, abrangendo um arco temporal da sua produção artística entre a década de 1950 e finais da década de 1980.

As 111 obras objeto deste contrato de doação "encontram-se à guarda do Museu do Neo-Realismo/Município, parte significativa está na exposição, a outra parte nas reservas museológicas", indicou a mesma fonte.

Esta é a terceira doação de obras do artista, depois de entregas anteriores, em 2010 e 2018, que somam um acervo de mais de 150 trabalhos do escultor, maioritariamente desenhos, quatro esculturas, gravura, serigrafia e outros materiais gráficos, descreveu a autarquia à Lusa.

As 111 peças agora doadas, no valor patrimonial de cerca de 177 mil euros, serão adicionadas ao acervo do museu, "graças à generosa doação da escultora Noémia Cruz", sublinhou.

Parte significativa dos bens culturais referentes a esta doação a oficializar no sábado encontram-se patentes desde 11 de setembro de 2021 na exposição intitulada "Jorge Vieira - Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido", prevista para terminar a 27 de março de 2022.

As outras duas doações feitas à autarquia - proprietária do museu - têm o valor de cerca de 21 mil e 69 mil euros, respetivamente, que, somados à terceira doação, ascende a um total de cerca de 267 mil euros, precisou.

No sábado, além da assinatura do contrato, está prevista uma conferência “Paris, Londres... Novos destinos dos Escultores portugueses no mapa do pós-guerra”, às 16:00, seguida de visita guiada à exposição pelas curadoras Leonor de Oliveira e Paula Loura Batista.

Esta conferência abordará as experiências diferenciadas dos escultores que saíram de Portugal ao longo dos anos 1950 e 1960 e que procuraram complementar os seus estudos e contactar com as tendências internacionais naquelas cidades.

Para além de Jorge Vieira, serão abordadas vivências no estrangeiro de outros artistas como João Cutileiro, em Londres, ou as experiências de viagem mais efémeras de escultores como Vasco Pereira da Conceição e Maria Barreira, em Paris, entre outros destinos europeus, numa altura em que se verificava uma redefinição dos centros artísticos internacionais.

Nome maior da escultura em Portugal, Jorge Vieira nasceu em Lisboa a 16 de novembro de 1922 e morreu em Estremoz a 23 de dezembro de 1998.

Licenciado em Escultura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas de 1947 e 1951 e expôs individualmente, pela primeira vez, em 1949 na Sociedade Nacional de Belas Artes, e viria dedicar-se ao ensino, mantendo sempre uma forte atividade política, com empenhamento cívico e luta antifascista.

Passou pela Slade School of Fine Art, onde conviveu com nomes importantes da escultura internacional, como Henry Moore e Reg Butler, e em 1953 concorreu ao Concurso Internacional de Escultura promovido pelo Instituto de Arte Contemporânea de Londres, onde foi premiado.

De regresso a Portugal lecionou da Escola António Arroio e participou em várias exposições, nomeadamente na exposição de Artes Plásticas da Gulbenkian em 1957, no Pavilhão de Portugal da Exposição Universal de Bruxelas, em 1958, e na Exposição 50 Artistas Independentes em 1959.

A partir da década de 1990 criou um conjunto de encomendas públicas de grande dimensão, que marcam os espaços urbanos em que se encontram implantadas, como o "Monumento à Liberdade" (1998), em Almada, o "Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido" (1994), em Beja, o "Monumento para o Mineiro" (1983), em Aljustrel, o "Monumento à Liberdade" (1999), em Grândola, ou da escultura do seu final de carreira, "Homem Sol", criada para a Expo’98 em Lisboa (1997), que se encontra no Parque das Nações, em Lisboa.

A exposição em Vila Franca de Xira centra-se na participação do escultor no Concurso internacional de escultura Prisioneiro Político Desconhecido, organizado pelo Instituto de Arte Contemporânea de Londres entre 1952 e 1953.

Jorge Vieira foi o único artista português admitido a concurso. A obra, de protesto contra o Estado Novo, apenas viria a ser erigida em 1994, na cidade de Beja, por iniciativa do município da cidade, que atualmente alberga o Museu Jorge Vieira – Casa das Artes, onde se encontra parte do seu espólio.

Para além da maquete do “Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido”, a exposição inclui registos documentais e bibliográficos sobre a trajetória expositiva da obra em Portugal e no estrangeiro.

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