Associações do Baixo Alentejo acusam Governo de ameaçar agricultura intensiva
A Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA) acusou hoje o Governo de ameaçar a agricultura intensiva, após a divulgação da abordagem do executivo sobre esta atividade, e lamentou que o setor não seja ouvido.
“O Governo não ouve os agricultores e ameaça a agricultura intensiva […]. O Governo ignora que a área de culturas ditas intensivas no Alentejo que tiram partido do regadio representará no futuro não mais do que 15% da superfície agrícola utilizada total na região”, apontou, em comunicado a FAABA.
Em causa está uma resolução do Conselho de Ministros, publicada em Diário da República no dia 27 de julho, sobre as orientações e recomendações relativas à informação e sustentabilidade da agricultura intensiva.
A federação disse que o Governo prefere “inventar mais legislação”, em vez de ter uma visão macro sobre a região, “como se esta prática constituísse uma crise de lesa-pátria”.
Os agricultores do Baixo Alentejo lamentaram ainda que o executivo faça “tábua rasa” das recomendações e pareceres técnicos das organizações de agricultores.
“O Governo deveria reconhecer que os agricultores são os primeiros interessados em cumprir os requisitos de sustentabilidade global das suas explorações”, vincou.
No documento, a FAABA considerou ainda inoportuna a necessidade de execução de um projeto piloto para a criação de regimes de produção sustentável para as culturas do olival e amendoal do regadio de Alqueva e para as culturas protegidas no Aproveitamento Hidroagrícola do Mira, conforme determinado no diploma.
Para a federação, isto não é justificado por questões técnico-científicas, ambientais, sociais ou económicas, mas pela necessidade de “dar cobertura a clientelismo político de partidos que ainda viabilizam a governação atual”.
Por outro lado, os agricultores defenderam que esta medida ignora também um estudo pedido pelo Ministério da Agricultura à EDIA – Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas do Alqueva sobre a cultura do olival na área do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA).
Conforme apontou, as conclusões indicam um conjunto de “boas práticas agrícolas e ambientais”.
No entanto, a FAABA congratulou-se com a criação do Portal Único da Agricultura e com a necessidade de criação do registo dos operadores das empresas do setor alimentar que produzem e comercialização frutas e produtos hortícolas.
“[…] Por tática puramente política, em vez de se basear em conhecimento técnico científico já produzido, o Governo encomenda novos estudos, legisla avulso, ao sabor de crenças de ‘ambientalistas radicais’ que não conhecem o território e que militam e forças políticas minoritárias”, concluiu.
Em 27 de julho, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) classificou a abordagem do Governo sobre a agricultura intensiva como uma “verdadeira aberração”, que não teve em conta as questões levantadas pelo setor, nomeadamente, num parecer da confederação.
Numa missiva, que acompanhou o parecer da CAP, o presidente desta confederação, Eduardo Oliveira e Sousa, já tinha recomendado que o projeto em análise fosse abandonado por ser “inadequado e não necessário”.
A resolução do Conselho de Ministros em causa, determina que, até ao final do ano, vão ser estabelecidas as regras para o registo dos operadores das empresas do setor alimentar, “que produzem determinados produtos vegetais”, bem como as aplicáveis à concentração “num único registo” os operadores que participem na comercialização de frutas e produtos hortícolas.
Segundo o mesmo diploma, o Governo vai ainda alterar a lei que regula as atividades de distribuição, venda e aplicação de fitofarmacêuticos, introduzindo medidas adicionais que reduzam o risco para a saúde humana, determinar a implementação de medidas de valorização dos subprodutos e resíduos de origem agrícola e, neste âmbito, atribuir prioridade à valorização dos bagaços de azeitona, “com recurso à compostagem e à integração no processo da valorização de efluentes pecuários”.
Adicionalmente, foi decidido, dentro da iniciativa “promoção dos produtos agroalimentares portugueses”, executar um projeto-piloto para a criação de regimes de certificação de produção sustentável, considerar, para efeitos de certificação, “o recrutamento justo e ético, as condições que garantam um trabalho digno, a formação necessária dos trabalhadores e a salubridade dos alojamentos disponibilizados e, até ao final de 2022, assegurar a certificação das culturas, pelo menos, em 80% da área das culturas abrangidas pelo projeto-piloto.
O projeto em causa incide sobre as culturas de olival e amendoal na zona de influência do Alqueva, culturas protegidas no aproveitamento hidroagrícola do Mira e sobre a cultura de abacate no Algarve.
Foi ainda determinada a criação de um quadro normativo de boas práticas que assegure a sustentabilidade dos sistemas produtivos mais intensivos e a elaboração de um estudo de um regime de instalação da atividade agrícola em regime intensivo.
Galeria de fotos
Comente esta notícia
Destaques
População da Cabeça Gorda acorda sobressaltada com "balbúrdia" de operação da PJ
Alentejo: Rede criminosa desmantelada pela PJ controlava 500 imigrantes, nem todos vítimas
Abrigo noturno temporário para pessoas em situação de sem-abrigo ativado em Beja

